domingo, novembro 12, 2006

O PADRE CRUZ PERMANECEU EM PENICHE AMIUDADAS VEZES

Por: Fernando Engenheiro
Francisco Rodrigues da Cruz era o nome completo daquela figura singular que a fé e a memória dos homens melhor conhece pela designação de Santo Padre Cruz.
Nasceu em Alcochete no dia 29 de Julho de 1859 e era o quarto filho de Manuel da Cruz, homem abastado, justo e generoso, bom cristão, cumpridor da Lei de Deus, e de D. Catarina de Oliveira Cruz.
Seu pai, dizia quem o conhecia, gabava-se de na sua casa, mandada construir por ele, nem um inicio prego ter sido pregado ao domingo. E nos anos de más colheitas, quando os caseiros não po diam pagar a renda inteira, perdoava-lhes tão liberalmente que havia quem o censurasse. Mas ele respondia que nunca tinha sentido a falta do que por caridade deixava de receber. Era homem de caracter e de vontade forte, que foi alguém graças ao esforço do seu trabalho tenaz e honesto. Aprendeu a ler já em plena mocidade mas soube orientar a sua vida e a família como se tivesse grandes estudos.
Seus filhos terão passado os seus primeiros anos, aqueles que mais marcam o espírito e o coração, num ambiente profundamente cristão.
Francisco partiu para Lisboa, aos 9 anos de idade, com Manuel, o irmão mais velho, e não recebeu nenhuma formação religiosa nos colégios e escolas que frequentou.
Mas a fé que de pequenino lhe acenderam na alma e os bons hábitos adquiridos ajudaram-no a conservar-se fiel às tradições ca t de muito novo entregue a si mesmo e desamparado
espiritualmente
Aos 16 anos, tendo terminado os preparatórios, nos quais deu provas de ser aluno muito aplicado, era chegado o momento de escolher a carreira da sua vida. Para os familiares e para os que o rodeavam não foi novidade a sua vontade ser Padre, o que também era o desejo dos seus pais, embora nunca o tivessem manifestado. Seu pai, para lhe deixar inteira liberdade na escolha, aconselhou-o a matricular-se na Faculdade de Teologia de Coimbra.

Terminada a formatura em Teologia, aprovado com a maior classificação, já doutorado, sentiu o chamamento de Deus para a vida religiosa na Companhia de Jesus “em “virtude das práticas que ouvia”.
Concluídos estudos universitários, o Dr. Francisco da Cruz foi convidado para professor de filosofia no Seminário de Santarém, aguardando a idade de se poder ordenar, pois contava ainda apenas 20 anos.
Só passados dois anos, no dia 3 de Junho de 1882, recebeu a Ordem de Presbítero.
Permaneceu no Seminário de Santarém, com a mesma actividade de professor, até Outubro de 1886, dali saindo para ocupar o lugar de Director do Colégio dos órfãos, em Braga.
Anos depois, o Servo de Deus de Braga passou para o Seminário de Farrobo, próximo de Vila Franca de Xira. Em 1896 este Seminário mudou-se para S. Vicente de Fora, em Lisboa, onde o
Padre Cruz continuou a ser Director espiritual. Em 1905, o Seminário Menor passou de S. Vicente para Santarém. Francisco permaneceu em Lisboa, continuando a residir no Paço de S. Vicente de Fora. A sua vida tomou, então, em absoluto, o carácter missionário que o marcou até ao fim dos seus dias na terra.

Mas foi a partir da primeira peregrinação a Roma, no dia 9 de Maio de 1909, onde foi recebido por Sua Santidade o Papa Pio X no dia 18 daquele mês, que não mais parou de pregar a palavra do evangelho por todos os sítios onde lhe foi possível chegar. Um encontro de dois santos, numa encruzilhada dos caminhos da vida, é sempre um acontecimento que à distância nos impressiona, embora no momento possa passar desapercebido no mistério e segredo de Deus.
Implantada a Republica em 5 de Outubro de 1910, já a sua fama de santidade, que o acompanhou a vida inteira, era largamente conhecida. Não teve qualquer problema com a perseguição sofrida então por muitos ministros da Igreja Católica pois foi sempre mui to respeitado. Por essa altura passou a dividir o seu tempo entre o Limoeiro e Caxias, as duas prisões onde se encontravam a maior parte dos Jesuítas dos Colégios do Bairro, de Campolide e da residência do Quelhas.
Foi a partir e durante as décadas de 30 e 40 que se fez sentir por amiudadas vezes a sua presença em Peniche pela grande ligação que tinha com D. Maria Herculana da Silva Rodrigues, senhora de grandes virtudes e devoção católica, que escolheu aquele servo de Deus para seu padrinho de casamento com Ezequiel dos Santos.
Era hospede de sua casa sempre que se deslocava a Peniche, onde era reconhecido por onde passava, quase sempre a caminho da Igreja de S. Pedro para celebrar a missa diária.
Ficou na memória de muitos a sua participação no Congresso Eucarístico realizado em Peniche a 8 de Junho de 1941 , acontecimento que muito honrou o povo desta terra.
Em 1940 o Rev. Padre Cruz, satisfazendo assim o desejo que acalentava havia 60 anos, ingressou na Companhia de Jesus, criada por Santo Inácio de Loyola.

Aos 89 anos de idade faleceu em santidade na casa das Senhoras Caldas Machado, no Largo do Caldas, em Lisboa, onde residia. Entregou a alma ao Criador no dia I de Outubro de 1948.
A notícia da morte do Padre Cruz foi dada pela Emissora Nacional no noticiário das 13 horas e retransmitida de boca em boca por todos os que deste ou doutro modo dela tiveram conhecimento.
Por sua vontade, conforme documento escrito e assinado em 22/5/1945, foi o seu corpo depositado no jazigo da família religiosa a que, fazendo os santos votos, se uniu a 3 de Dezembro de 1940 – à Companhia de Jesus.
A sua alma vivia de intenso amor a Deus e ao próximo. Sensível a todas as misérias humanas, o seu ministério predilecto era exercido junto dos humildes, dos presos nas cadeias, dos doentes, dos pobres, dos necessitados e dos pecadores. O Processo Informativo da sua

beatificação começou em Lisboa a 10 de Março de 1951 e foi entregue à Santa Sé em 17/9/1965.
Apôs a sua morte uma romaria é notada todos os dias no Cemitério de Benfica, em Lisboa, onde seu corpo está depositado. Nos dias do aniversário do seu nascimento, da sua morte e no dia de finados quase não se pode passar em frente do seu jazigo que, nestes dias, mantém a sua porta aberta.
A Câmara Municipal de Alcochete prestou-lhe diversas homenagens mas o País inteiro perpetuou o seu nome em diversas ruas e até bairros têm o seu nome como topónimo.

Também em Peniche, por deliberação camarária de 29 de Outubro de 1987, a pedido dos habitantes de um arruamento do Bairro de Santana a que inicialmente fora atribuída a designação de “Travessa Escondida”, o nome do Padre Cruz figura na toponímica local.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem haja este homem que nos orienta e afasta a escuridão.

Anónimo disse...

Veni Magister Templi! Veni Magister Mundi!