sábado, setembro 20, 2008

QUEM FOI FRANCISCO DE JESUS SALVADOR

Por: Fernando Engenheiro
Seu pai, MANUEL SALVADOR DA SILVA, nasceu em Peniche, na freguesia de Nossa Senhora da Ajuda a 6/4/1891 e faleceu a 4/6/1951. Era filho de Joaquim Salvador da Silva, marítimo e de Lúcia de Jesus Machado, doméstica.
Com ligação à vida marítima desde a sua infância, Manuel Salvador ao completar a idade própria para servir nas fileiras, passando ao lado das primeiras letras no ensino primário, teve a oportunidade de, a 13/6/1911, ingressar como tripulante do barco salva-vidas de Peniche de Baixo dando assim cumprimento aos deveres militares ao abrigo do Art° 14 - § único - do Decreto de 26/5/1911. A Estação de Socorros a Náufragos estava instalada num barracão construído em madeira em frente do bico nascente/norte da Fortaleza, no antigo Portinho de Revez.
Desamparado do calor materno, ainda de tenra idade ficou órfão. Seguindo os passos de seu pai, único ascendente que lhe restava, a sua vida foi o mar.
Com muito trabalho e protegido pelo factor sorte, foi mestre de caíques, depois de traineiras e, ainda muito novo, armador, o que o levou a ser considerado um dos mais bem conceituados e respeitados da praça de Peniche.
Manuel Salvador casou em 1912, com 21 anos de idade, no dia 24 de Julho (dia em que a Igreja Católica inclui no calendário litúrgico a celebração da festa de Santa Cristina, Virgem e Mártir), com Cristina Martins Salvador, de 19 anos de idade, nascida em Peniche a 21/3/1893, filha de Francisco Martins, calafate, e de Albertina de Jesus Martins.
Atendendo à sua situação militar, pois não tinha qual quer remuneração pelo serviço público que estava a cumprir, não lhe era possível ter casa própria. Seus sogros compartilharam consigo sua habitação na rua Elias Garcia, nasce o varão da familia, FRANCISCO DE JESUS SALVADOR. Poucos dias depois do seu nascimento foi baptizado na Igreja Paroquial de S. Pedro, tendo como padrinhos seus avôs maternos.
A sua mãe coube a tarefa de ajudar como rendeira (rendilheira) a suportar as despesas do seu lar e, como ainda hoje acontece em todo o ambiente marítimo, é à mãe que cabe ter o cuidado de encaminhar seus filhos para sítios apropriados à sua futura cultura, educação e bem estar. Na idade própria para aprender as primeiras letras, depois da catequese, frequentou a escola primária n°1 de Peniche (agora vulgarmente conhecida entre nós por “Escola Velha”), onde concluiu o exame de instrução primária do 2° grau (Quarta Classe) no dia 18/7/1928 com a aprovação de 15 valores, dada pelos examinadores D. Urbana Trindade (Presidente do Júri) e Francisco Maria Freire e D. Maria Angélica Martins (Vogais), sendo o mes tre que o preparou ao longo dos quatro anos lectivos (da 1° à 4° classe) Francisco Maria Freire.
Aos 19 anos de idade ao dar os primeiros passos no cumprimento dos deveres militares, na Câmara Municipal de Peniche, apresenta-se como empregado no comércio e tendo como habilitações literárias o 2° grau da Instrução Primária.
Na verdade no ano lectivo de 1936-37, com a média de 13 valores, concluiu o Curso de Comércio na Escola Industrial e Comercial Rafael Bordalo Pinheiro, em Caldas da Rainha.
No ano que se seguiu à conclusão do seu curso trabalhou, em 1937-39, como professor de Caligrafia, Contabilidade e Correspondência Comercial no Instituto D. Luís de Ataíde, em Peniche, estabelecimento de ensino que existiu na Rua Almirante Reis, actual Avenida do Mar.
Na mesma época, começou por se ligar aos interesses da Terra como membro da Comissão Municipal de Turismo, com grande êxito, nos anos que se seguiram 1937/39 e 1940/1949 (com alguns intervalos).
Seguindo os passos de seu pai, os seus bons conselhos e o seu exemplo, tornou-se armador de pesca com a traineira “Lilés” (a mão e o grande apoio de seu pai, explorando o seu saber, estava là). Foi, com êxito, proprietário de diversas traineiras ao longo dos tempos: “Campeão” e “Atleta” e coproprietário das traineiras “Sansão e “Desportista”. Foi também sócio gerente de uma firma de atuneiros sediada em Aveiro.
Em 21/8/1943, com 28 anos de idade, Francisco de Jesus Salvador celebrou o seu matrimónio, na Paroquial de S. Nicolau, na cidade de Santarém, com Carlota Maria da Silveira Pinto da França, de 23 anos de idade, nascida a 23/9/1919 na Vila de Mafra, filha de Bento da França Pinto de Oliveira e de Emilia Albertina Cristiano da Silveira. A familia de sua futura esposa vinha passar férias de veraneio a Peniche desde 1938. Justifica-se o casamento em Santarém dado que a sua noiva ali residia, desempenhando seu pai as funções de Comandante do Quartel de Cavalaria daquela cidade.
o distinto oficial seu sogro, na década de 50, com patente de Coronel, exerceu as funções de Chefe da Casa Militar do Presidente da Republica Portuguesa, Francisco Higinio Craveiro Lopes. Era descendente do l° Conde da Fonte Nova, Bento da França Pinto de Oliveira, nascido a 6/11/1793 e falecido a 14/12/1852, a quem sucedeu seu filho, com o titulo de 2° Conde, Luis Paulino de Oliveira Pinto da França, falecido a 9/5/1888, e outros que lhe sucederam.
Francisco Salvador, sempre tratado com muito carinho por aqueles que o rodeavam por “Senhor Chico Salvador”, após o casamento fixa residência numa casa, de arquitectura muito apreciada na época, mandada construir por seu pai, possivelmente como dote de casamento, nos novos arruamentos do Mercado Municipal (na actual Rua Arquitecto Paulino Montez).
Suas irmãs, que se seguiram ao seu nascimento, Ivone Salvador, Gisela Salvador e Madalena Salvador, também foram contempladas pelos seus pais com as suas habitações, aquando dos seus casamentos.
Do enlace matrimonial de Francisco Salvador e Carlota Bento da França nasceram, além do primeiro filho, Manuel Bento Pinto da França Salvador, falecido com apenas dois dias de vida: Helena Maria Pinto da França Salvador, nascida a 29/5/1944 - Maria Cristina Pinto da França Salvador, nascida a 28/3/1947 e Francisco Manuel Pinto da França Salvador, nascido a 17/11/1950.
A sua situação profissional, aliada ao facto de então em Peniche só serem possíveis estudos até ao 2° ano do Liceu, levou-o a optar por arranjar em Lisboa uma segunda habitação onde os filhos puderam completar os seus estudos desde 1959.
Ao longo da sua vida, sempre que lhe era possível, como grande amante que era da fotografia e do cinema, expôs diversas vezes e obteve um 2° prémio num Concurso promovido pelo SNI (Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo) e diversas menções honrosas em vários outros concursos. Realizou uma curta-metragem de animação que foi projectada em primeira mão na Mostra de Cinema de Animação do Estoril. Igualmente se dedicou à pintura e aguarela, embora sem grande expressão. Filatelista de mérito, angariou vasta colecção de selos nos temas: mar e bancos, e generalista nacional.
Recordando o seu tempo de jovem é de referir que se dedicou com bastante sucesso à prática do ténis, modalidade onde obteve diversos prémios em concursos realizados em Peniche, nas Caldas da Rainha e outras localidades, e que praticou, embora com menos assiduidade nos últimos tempos, até aos seus sessenta anos.
Como membro da Comissão Municipal de Turismo em diversas ocasiões, participou na organização de numerosos concursos de pesca e outros eventos.
Aos 53 anos de idade estava em plena actividade desempenhando os cargos de Director do Grémio dos Armadores da Pesca da Sardinha; Vogal da Junta Disciplinar da Corporação da Pesca e Conservas; Representante da Corporação da Pesca e Conservas no Conselho Técnico das Escolas de Pesca e na Junta Central dos Portos. Isto no plano nacional. No plano local era Vice-Presidente do Clube Naval de Peniche e Presidente da Assembleia Geral do Grupo Desportivo de Peniche (duas colectividades de que foi fundador). E então convidado para o desempenho das funções de Presidente da Câmara Municipal de Peniche.
A 13/9/1969, em cerimónia oficial, procedeu-se à passagem do testemunho do anterior Presidente da Câmara Municipal, Victor João Albino de Almeida Baltazar para FRANCISCO DE JESUS SALVADOR.
Deslocou-se a Peniche o então Governador Civil do Distrito, Doutor José Damasceno de Campos que, no Salão Nobre do Edifício dos Paços do Concelho lhe conferiu a posse do referido cargo, na presença de elevado número de representantes dos mais diversos sectores da sociedade local, como o atestam as 120 assinaturas que testemunham as presenças no referido acto.
Não foi muito longa a sua permanência à frente dos destinos do Concelho, em consequência da alteração politica resultante do 25 de Abril de 1974. A sua passagem pela direcção do Municipio ficou ligada à construção de um novo Bairro na Fonte Boa (o que permitiu a extinção das miseráveis e numerosas barracas então ali existentes). Igualmente foi importante a sua acção no arranjo dos acessos aos pesqueiros das marginais de Peniche, dos acessos e estacionamentos da praia do Molhe Leste, do arranjo da Praça Jacob Rodrigues Pereira, Jardim Público, etc.
O abandono das funções de Presidente da Câmara, por imposição da legislação criada pelo novo regime do País , não fez cessar a sua actividade a favor da terra que o viu nascer. Em Janeiro de 1979 foi eleito Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Peniche, cargo que desempenhou até ao fim da sua vida. O mesmo se passou também relativamente ao cargo de Presidente do Núcleo Local da Cruz Vermelha Portuguesa.
Na Santa Casa a sua actividade foi sobretudo assinalada pela salvaguarda do património construído da instituição (são disso exemplo os restauros da Capela do Senhor do Calvário e da Igreja da Santa Casa da Misericórdia). A gestão do ATL de Sant’Ana, reparações e reconstruções de alguns outros prédios marcaram também a sua passagem pela direcção da prestigiada instituição.
Aos 71 anos de idade, na sequência de prolongada doença, faleceu a 29 de Maio de 1987, no Montepio de Caldas da Rainha.
Foi a sepultar no Cemitério Municipal de Sant’Ana, em Peniche, junto de seu avô e padrinho (falecido com 82 anos de idade a 18/1/1953), a seu pedido.
A Câmara Municipal de Peniche, em reunião de 2/3/1993, aprovou uma homenagem a esta figura ilustre, perpetuando o seu nome numa das ruas da nossa cidade. Trata-se do primeiro arruamento que, para Norte, começa na Rua dos Dominguinhos, atravessando a Rua das Vinhas, e se prolonga para Norte, paralelo à Rua da Fonte de Nossa Senhora do Rosário, que lhe fica a nascente.
Alguns anos, depois a 10/1/2004, com 84 anos, faleceu na sua residência a viúva, D. Carlota Maria da Silveira Pinto da França Salvador. Foi a sepultar no Cemitério Municipal de Santana, junto de seu marido.

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