quarta-feira, março 04, 2009

O CONDADO DE ATOUGUIA E SEUS ANTECEDENTES (III)

Por: Fernando Engenheiro
Com o falecimento do 4° Conde de Atouguia foi seu filho primogénito D. Luís de Ataíde (2. herdou a casa e o título e a quem D. Filipe III confirmou a mercê em data de 11/7/1630.
Foi senhor de Peniche, Monforte, Vinhais, Sernache, Lomba e Ilha Deserta, Capitão Mor de Leiria e comendador de Santa Maria de Olivença.
Substituiu seu pai, após o falecimento deste, na provedoria da Santa Casa da Misericórdia de Peniche nos anos de 1629/1630.
Casou com D. Filipa de Vilhena, que nasceu em Lisboa e morreu na mesma cidade a 1/5/1651 filha de Jerónimo Coutinho, Conselheiro de Estado e Presidente do Desembargo do Paço, e de sua mulher D. Luisa de Faro. Faleceu a bordo do navio que o levaria para o Brasil)
D.Filipa era senhora resoluta e briosa. Viúva havia pouco tempo, teve conhecimento de todos os preparativos da revolução do I° de Dezembro de 1640 e aconselhou seus filhos a que a ela aderissem e partilhassem os perigos dos seus irmãos em fidalguia e em nacionalidade.
Na madrugada do dia 1 de Dezembro, mostrando uma resolução mais que humana cingiu ela própria as armas aos seus dois filhos e mandou-os combater pela pátria, dizendo-Ihes que não voltassem senão honrados com os louros da vitória.
A sua atitude patnotica facto que ficou celebre na historia portuguesa não so honrou o Pais inteiro mas em especial a nossa Atouguia e todo o concelho jà que, na qualidade de Condessa de Atouguïa em plena actividade das suas funções pelo seu estado de viuvez, estava à frente dos destinos do Condado.
Foi uma solução certa para a época, a determinação dos 40 conspiradores que actuaram com heroísmo na defesa da nossa nacionalidade. Seria pior se assim não fosse, atendendo a que a Catalunha se tinha levantado e à Espanha não sobravam forças. Novas levas de portugueses se preparavam para combater na Catalunha e com elas deviam ir o Duque de Bragança e outros nobres de Portugal que se tinham conservado fiéis às suas tradições e ao seu nome. Era demais, transbordava a taça. Era necessário, desse por onde desse suster a degradação dos domínios portugueses submetidos aos interesses de Espanha.
Após a aclamação do Duque de Bragança como rei de Portugal, com o título de D. João IV, D. Jerónimo de Ataíde, um dos conspiradores de 1640, que por morte de seu pai assumiu a casa de Atouguia como 6° Conde foi logo nomeado governador de Peniche. Outros cargos desempenhou ao longo da sua vida tais como: Governador das Armas de Trás os Montes em 1649 e 1652, Governador do Brasil em 14/12/1642, Governador das Armas do Alentejo em 1659, Presidente da Junta do Comércio em 1664, Conselheiro da Guerra em 1661 e do Conselho de Estado em 1662 gentil homem da Camara do Rei D Afonso VI
Foi Comendador de Adaùfe e de Vila Velha de Ródão, na Ordem de Cristo. Em 1632, ainda em vida de seu pai, foi Provedor da Santa Casa da Misericordia de Peniche e, pouco tempo depois da restauração, Juiz da Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Peniche logo apôs a sua fundação. Casou duas vezes: a primeira, em 1658, com D. Maria de Castro, sua prima coirmã, que morreu em 1661 , filha dos 2.os Condes de Penaguião (com geração); a segunda com D. Leonor de Meneses, já viúva do l. Conde de Serém, filha e herdeira de D. Fernando de Meneses e de sua mulher, D. Jerónima de Toledo, filha dos 2.os Condes de Vila Franca, que morreu a 4/9/1664.
Jaz sepultado na capela-môr da Igreja que fez parte do Convento de Santa Maria de Jesus em Xabregas (padroado da famila) após o seu falecimento ocorrido a 16/8/1665.
Deve-se a este Conde grande impulso então dado ao reforço militar de Peniche, bem como a construção da Fortaleza das Berlengas, uma vez que o perigo de uma nova ocupação espanhola espreitava todos os dias.
Foram muitos os anos em que Espanha não aceitou a restauração da independência de Portugal. Só foi possível a paz depois de uma guerra que se arrastou durante 28 anos, com muitas campanhas e mortes. O acordo foi assinado em Lisboa, em 13 de Fevereiro de 1668, pela rainha regente de Espanha D. Mariana. A Espanha reconheceu a independência portuguesa e devolveram se mutuamente prisioneiros e conquistas. Exceptuou-se a Cidade de Ceuta, que ficou na posse de Espanha.
Depois de tantos dissabores e amarguras já não foi possível ao Conde Jerónimo sentir a alegria desta paz com a Espanha por ter falecido 3 anos antes.
Foi 7° Conde D. Manuel Luís de Ataíde, filho do primeiro casamento de D. Jerónimo com D. Maria de Castro. Foi tenente-general da Cavalaria do Alentejo. Gravemente ferido na batalha de Montes Claros, no meio duma brilhante carga da sua cavalaria, que se portou com a maior valentia praticando prodígios de heroicidade. Das consequências desse ferimento veio a falecer quatro meses depois a 12/10/1665. Deixou viúva D. Vitória de Bourbon e não deixou descendentes.
Foi 8° Conde D. Luis Peregrino de Ataíde, um meio irmão do 7° Conde, filho do segundo casamento de D. Jerônimo com D. Leonor de Meneses.
Casou com D. Margarida de Vilhena, filha dos 3.os Condes do Sabugal, e foi Meirinho Mor do Reino. Foi assassinado na noite de 6/10/1689.
Sucedeu-lhe seu filho D. Jerónimo Casimiro de Ataíde na Casa e no titulo como 9°. Conde de Atouguia. Casou em 12/6/1694, com D. Mariana Teresa de Távora. filha dos 2.os Marqueses de Távora.
Não lhe é atribuído durante o seu condado que se prolongou por 30 anos algum feito que o tomasse particularmente notado. No Livro de Vereações de Atouguia de 1703/1708, fIs. 188 e 188v, encontra-se registada referência à formação duma companhia de ordenanças dos homens solteiros de Atouguia e seu termo. Também lhe é atribuído no Livro de registos de provisões e alvarás da Câmara de Atouguia de 1710/1721, fIs. 64v a 65, o traslado de um alvará de mercê do Castelo da Vila de Atouguia a favor de Henrique de Matos Boracho.
Foi este fidalgo que, por haver casado com uma das filhas do marquês de Távora, estreitou as ligações entre as duas famílias nobres tragicamente envolvidas, meio século depois, no atentado
a D. José. Faleceu D. Jerónimo Casimiro de Ataíde a 30/11/1720.
Peniche, de quem estes fidalgos eram Donatários, tinha na época (cito a “Corographia Portugueza” -1712- Tomo III):
“Tem dous Juizes Ordinários, Vereadores, hum Procurador do concelho, escrivão da Câmara, hum Juiz dos Órfãos com seu escrivão, dous Tabeliens, & hum Juiz da Alfandega, com seus officiaes, que apresenta El-Rey. Tem quatro Companhias da Ordenança, & de presídio por ser praça de armas, huma Companhia de Cavalos, & hum Terço de Infantaria paga, com seu Governador. He senhor desta Villa o Conde de Atouguia, & lhe rende cinco mil cruzados dos dizimos do peyxe, & das sahidas das embarcaçoens, que sahem da sua barra, & de suas cargas lhe pagão dez por cento; & a Câmara lhe dá hum jantar cada anno, que importará duzentos mil réis”.
Por falecimento do 9° Conde, D. Jerónimo Casimiro de Ataíde, sucedeu-lhe no título seu filho D. Luís Peregrino de Ataíde como 10° Conde de Atouguia e Donatário de Peniche, de seu nome completo Luís Pedro Peregrino de Menezes Carvalho e Athayde). O título foi-lhe confirmado por carta no reinado de D. João V, em 2/3/1713.
Enquanto menor, sua mãe D. Mariana Teresa de Távora, Condessa de Atouguia, como tutora da pessoa e bens do Conde seu filho, donatário das Vilas de Atouguia e Peniche, superintendia nas concessões dos alvarás e provisões das Câmaras de Peniche e Atouguia para poderem exercer as suas jurisdições sem embargo.
Luís casou, a 30/1/1720, com D. Clara de Assis Mascarenhas, filha dos 2.os Condes de Óbidos. Foi Governador e Capitão General do Algarve e pertenceu ao Conselho de D. João V. Em 1749 foi nomeado Vice-Rei do Brasil (o 6°) alto cargo que deteve até 1755. Foi durante o seu governo que Portugal cedeu à Espanha os seus direitos sobre a margem esquerda do rio da Prata. Reorganizou as unidades militares e regulamentou o trabalho nas minas de ouro e nas fundições. Como tardassem em conceder-lhe a demissão, em 1755 retirou para a Europa, entregando o governo a uma Junta Provisória de que faziam parte o Arcebispo da Baia, D. José Botelho de Matos, o Provedor-Mor da Fazenda, Manuel António da Cunha Soto-Maior, e o coronel Lourenço Monteiro.

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