quinta-feira, outubro 01, 2009

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO FAROL DO CABO CARVOEIRO, EM PENICHE

Por: Fernando Engenheiro
O naufrágio do galeão espanhol S. Pedro de Alcantara, ocorrido às 11 horas da noite de 2 de Fevereiro de 1786, foi a causa imediata da construção de um farol no Cabo Carvoeiro.
Frequentes naufrágios sucedidos nesta zona que “reclamavam há muito a falta ali de sinalização para o tráfego marítimo ”
No mesmo ano em que teve lugar aquele acidente, foi mandado ali construir um farol provisório, de madeira, que substitui até ao ano de 1794, em que se edificou o actual que, ao longo dos tempos, sofreu algumas alterações na sua arquitectura inicial.’
Foi autora da obra a Real Junta do Comércio, Agricultura e Navegação deste Reino e seus domínios, entidade que, na época, superintendia nos assuntos’ desta natureza.
Aquelo imóvel ao serviço da navegação teve como seu primeiro Administrador o Capitão Inácio José Barreto, residente em Peniche, que acompanhou o construção:
A obra foi iniciada a cargo de Januàrio Ferreira, mestre canteiro, que não a terminou. em virtude do seu falecimento se ter dado a 5/4/1790, tendo sido sepultado na Igreja de S. Sebastião, sua freguesia.
Foi entregue o acabamento a José Pedro, carpinteiro, do lugar de Geraldes, termo da Vila de Atouguia da Baleia, e o Lourença Gonçalves, mestre de pedreiro, de Leiria, par escritura celebrada a 8/8/1792. (livro de tabeliães de Peniche, n°47 - 1791/1794).
- Tem esta torre 24,57 metros de altura, acima do nível do mar, e 101 degraus, pelos quais se chega ao sistema ou aparelho de iluminação.
Num documento de troca de correspondência entre o inspector do Farol (Capitão José Rodrigues Ferreira) e a Real Junta do Comércio, datado de 30/511 diz-se o seguinte: Este farol é situado Sobre o Cabo Carvoeiro – tem de altura até às primeiras luzes 110 palmos - a sua luz é fixa,’ e dura desde o pôr do’ sol ‘até ‘ao nascer do dia seguinte avista-se, estando o tempo claro e sem névoa, até sete léguas de distância
- sua posição é Norte/Sul, na latitude de 39 graus e 27 minutos, e na longitude de 8 graus e 57 minutos, contados pelo Meridiano da ilha do Ferro - O farol que fica mais perto deste é o do Cabo da Roca, doze léguas’.
Foi de luz fixa até 1843, sendo por esse tempo mudado para luz de rotação .
Adoptou-se então o sistema catóptrico; de facto há noticias de que em 1865 a luz era branca e fixa, produzida por dezasseis candeeiros de Argao com reflectores parabólicos , atribuindo-se-lhe à data o alcance de 9 milhas.
Em 1842 houve algumas obras, incluindo o entaipamento dos vãos de algumas janelas, como se diz num documento de 6/10/1842:
Não sei se o chumbo que se tira da pedraria do farol pertence ao empreiteiro, ou não, conforme o seu ajuste ou arrematação, já perguntei ao mestre e disse-me que também o não sabia, porém eu sempre o vou mandar recolher para estar em resguardo -
Gaudêncio Fontana, Director dos Faróis do Reino”
Também o partir de 1 de Fevereiro de 1886 o farol foi totalmente remodelado no que respeita à, edificação e passou, também, a estar munida de um novo aparelho, de 3° ordem, cuja e fonte luminosa era constituída por um candeeiro de petróleo de très torcidas, garantindo-lho’ um alcance luminoso teórico de 17milhas.
Em 1923 este aparelho lenticular de 3°ordem, foi substituído par outro de 4°ordem, mas girante, produzindo, grupos de ‘4 relâmpagos, o qual era movimentado por uma máquina de relojoaria; a fonte luminosa - era um bico constante, que alegadamente lhe proporcionava 12 milhas de alcance luminoso.
No ano de 1947 o farol passaria a utilizar gás acetileno, em lugar de petróleo, como fonte luminosa principal.
Cinco anos decorridos, em 1952, seriam finalmente introduzidos no farol os benefícios da ‘electricidade e a fonte luminosa passaria a ser uma lâmpada eléctrica de 250w/220v, conferindo-lhe um alcance de 19 milhas. Quanto ao sinal-sonoro de nevoeiro, o primitivo - uma trombeta de ar comprimido sistema Holmes
encontrava-se abrigado numa guarita de ferro. O motor era uma máquina de vapor de 4 cavalos nominais, a sua instalação é de 1886, sendo modificado sucessivamente em 1921, 1939, 1964 e 1980 data esta em que passou a ser constituído par uma sereia eléctrica.
Em 1949, foi instalado um rádio-farol, Marconi, que sofreu alterações em 1953; actualmente desactivado.
No dia 8/11/1988 ficou o farol a funcionar com o nova sistema automático, um aparelho FRB - 46 de’12 lâmpadas de halogéneo montadas em ópticas seladas providas de reflectores parabólicos .
Este aparelho tem uma célula fotoeléctrica e um sistema de comutação de Lâmpadas em caso de avaria.
Na mesma data, foi aplicado um novo sistema automático para sinal-sonoro.
Foi também montada uma nova central eléctrica, com sistema automático, que em caso de falta de corrente eléctrica do exterior, arranca no prazo de 2 minutos o grupo electrogénio, que irá fornecer corrente só para o sistema automático.
Volta tudo ao normal, quando a corrente chega do exterior; mas o farol mantém-se aceso por meio de baterias em qualquer transacção de corrente.
Tem este Farol 15 segundos de rotação e é de 3 relâmpagos vermelhos.
‘APONTAMENTOS DIVERSOS:
(Elementos extraídos, em parte, do livro de registo de correspondência recebida e expedida de 1828/1842, que fez parte dos arquivos do Farol).
A Administração do Farol esteve a cargo da Real Junta do Comércio, Indústria e Navegação , bem como todos os outros do Reino, até Julho de 1834 (data da sua extinção). Logo a seguir passou a desempenhar as mesmas funções a Administração Geral des Alfândegas do Sul do Reino.
Para armazenar o azeite, que vinha em principio de Lisboa transportado pelo barco “canhoneira” ao serviço da Praça de Peniche existiam 4 pias em pedra, que levavam, em conjunto, 128 almudes. Por muitos anos foi fornecido pelos almocreves, que vinham fazer a sua entrega ao domicílio.
O quadro do pessoal, por mais de um século, era constituído por um faroleiro e um inspector, que tinham a remuneração anual de 120$000 reis para cada um, a qual era recebida por quartéis, e quase sempre bastante atrasada.
Já no principio deste século, era concedido à mulher do faroleiro o lugar de faroleira. Ocuparam tais cargos, com diploma de funções publicas, Maria da Conceição Lourenço/José Lourenço (pais do nosso assinante Sr. Gloriabor Lourenço) e Maria do Despacho Carvalho/Anacleto Barradas (de que é neto, o nosso assinante Sr, Jaques Carvalho Nunes, residente em Inglaterra).
Hoje é guarnecido par 7 homens, que dão assistência a esta área - incluindo: Farol do Berlenga, Farilhão, Farolins da entrada da barra, Farolins de Peniche de Cima, Porto das Barcas e Porto Dinheiro. A 18 de Julho de 1834. apareceram algumas embarcações de guerra da esquadra, insurgentes nestes mares, duas das quais se aproximaram bastante da costa. Ao ter conhecimento deste facto o Governador interino desta Praça, deu Ordens para que o farol estivesse sem - funcionar até novas ordens, que foram dadas, retornando tudo ao normal, a 3 de Agosto (15 dias depois).
Nos primeiros dias’ do mês de Julho de 1842, houve uma queixa de dois vapores que navegavam do Porto para Lisboa, directamente ao Conselheiro do Reino, atentando que não acendiam o farol há já dois dias. Feitas averiguações, chegou-se à conclusão que o criado do então faroleiro vendia o azeite a particulares, para seu proveito próprio.
Houve épocas de grande dificuldade na aquisição do azeite vendido pelos almocreves, o que aconteceu em 1830 pela grande afluência de tropa e particulares que aqui estiveram degredados.

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