sexta-feira, dezembro 20, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche V

Em Maio de 1976, como já não havia lugar para as viaturas, um grupo de bombeiros, a que deram o nome de ‘Movimento Pró-Bombeiros adquiriu e ofereceu à própria corporação uma nova ambulância devidamente equipada, de marca “Peugeot 504’ Conforme lhes foi possível, continuaram a proceder a novas aquisições. Em fins do ano de 1978 foi adquirida uma nova viatura de combate a incêndios. Ainda na mesma década de 70, no dia do 43° aniversário a 16 de Junho de 1972, procedeu-se ao descerramento da lapide toponímica que designa a Rua dos Bombeiros Voluntários, a antiga Travessa do Matinho, ou seja, aquela onde se estava a construir o novo quartel dos Bombeiros Voluntários de Peniche e houve uma visita as obras da mesma unidade. 
Em 1973, no dia que assinala o aniversario seguinte realizou-se, como já vinha sendo hábito desde o primeiro ano da fundação daquele organismo humanitário, uma romagem de saudade ao Cemitério Municipal de Santana e ainda um jantar de confraternização entre directores e bombeiros num restaurante em Peniche. Também naquele ano foi assinalado, quatro meses depois destas solenidades, a morte de António da Graça Baptista, a 9 de Outubro de 1973, com 63 anos de idade. Foi um brioso soldado da paz, jamais se poupando a esforços ou sacrifícios onde os seus serviços pudessem ser úteis, sendo bastante rico o seu ‘curricu1um. Admitido como aspirante nos Bombeiros Voluntários de Peniche em Dezembro de 1942, foi depois objecto das seguintes promoções de 3 Classe em 1945, de 2 Classe em 1957, de l° Classe em 1959, subchefe de material por distinção em 1968. Foi ainda distinguido com as seguintes medalhas da associação: cobre em 1950 pelo seu comportamento exemplar; prata em 1959; ouro em 1969 por ter completado 25 anos de actividade. Modelo de dedicação à tão nobre causa dos bombeiros, dificilmente o seu exemplo se nos apagará da memória.

Recordo aqui também Inácio Luís Ceia, falecido a 28 de Março de 1976, com 67 anos de idade, não menos importante o seu ‘curriculum’ desde o dia da fundação, alistado aos 20 anos de idade e que se prolongou pela sua vida fora. Também na mesma década viram partir da vida presente o jovem soldado da paz Francisco José Remígio Garcia, A família testemunhou com o agradecimento ao Comando, Direcção e à Fanfarra da Associação dos BVP pela homenagem prestada e outras corporações de bombeiros que acompanharam o cortejo fúnebre até à inumaçäo junto dos seus colegas falecidos. Recordo, também, Albertino Jesus da Silva, bombeiro subchefe incorporado a 15 de Julho de 1947, com longa actividade, veio a falecer a 8 de Dezembro de 1978, sepultado junto aos seus colegas no talhão privado dos BVP no Cemitério Municipal de Santana.
Estamos em 1979. A Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Peniche vai celebrar meio século de existência, ao serviço do bem comum, no dia 16 de Junho, a data da grande efeméride. Todas as corporações do nosso distrito de Leiria se fizeram representar com os seus respectivos estandartes e elementos que o acompanharam nas viaturas das suas corporações, que passo a relatar:
Caldas da Rainha, Bombarral, Nazaré, Batalha, Alcobaça, Porto de Mós, S. Martinho do Porto, Óbidos, Marinha Grande, Leiria Vieira de Leiria, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pêra, Pedrogão Grande, Pombal e Ancião. De outros distritos vieram corporações de: Lourinhã, Torres Vedras, Vila Nova de Ourém, Bombeiros Municipais de Coimbra, Constância, Abrantes, Alenquer, Lisboa (Campo de Ourique e Funchal. Em lugar de destaque acompanhou a representação no nosso cinquentenário o estandarte que representa esta corporação e que os soldados da paz sentem orgulho e que sempre os tem acompanhado desde a sua fundação nas mais diversas representações, religiosa civis e militares, transportado pelo porta-estandarte e dois membros da mesma corporação no papel de guarda de honra. Os olhos dos honrosos soldados que compõem a instituição brilham ao verem pender do cimo da lança os mais honrosos galardões que, ao longo dos tempos. àquela entidade tem sido reconhecida pelas suas qualidades do bem-fazer.
Considerando a meritória acção desenvolvida ao serviço do bem comum e o alto espírito humanitário revelado na defesa de vidas e bens pela aludida associação, o então ministro da Administração Interna manifestou púbico apreço de louvor à Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Peniche pela prestigiosa acção. desenvolvida ao longo da sua existência, cujo aniversário assinala, na certeza de que tal testemunho corresponderá não só à expressão de um sentimento pessoal, mas também à de um reconhecimento público que é devido pelo alto espírito de solidariedade humana, de altruísmo e de abnegação sempre evidenciados pela associação em causa. Também a Câmara Municipal de Peniche, por unanimidade, deliberou mandar exarar na acta de 13 de Junho de 1979, um voto de público louvor e agradecimento àquela benemérita instituição, à sua direcção, comando e corpo activo, que pela sua abnegação, coragem e dedicação ao longo de 50 anos devotados ao serviço de toda a população do nosso concelho, fazendo jus ao seu lema ‘Vida por vida’, se tornou credora do sentido reconhecimento de todos os penichences. A autarquia associou-se assim ao carinho dispensado por todos os munícipes aos ‘nossos’ bombeiros nas comemorações das suas bodas de ouro, tendo ainda deliberado participar activamente nas festividades que assinalam a efeméride.
Em sessão solene, no prolongamento do dia das festividades, foi entregue pelo representante do Conselho Administrativo da Liga dos Bombeiros Portugueses, a medalha de ouro, duas estrelas, por relevantes serviços prestados à causa do ‘soldado da paz’ e do voluntariado português, ao comandante em actividade desde 1958, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, natural e residente em Peniche, entidade que quis satisfazer esta oferta por unanimidade em deliberação de 15 de Junho de 1979. Não foram esquecidos pela organização os sócios fundadores daquela fundação humanitária na entrega de medalhões e galhardetes: Aires Henriques Bolas, Joviano Passos Coelho, Acácio Sousa Lacerda, Augusto Santana Veloso, José Manuel dos Santos Ginja, José Maria de Carvalho Oliveira, Joaquim Guilherme Fana Júnior e Afonso Leitão Costa. Também os bombeiros fundadores foram reconhecidos com as mesmas ofertas: Quintino Augusto de Lemos, José Rosa do Rio, Ângelo Gaspar da Mata, Manuel Miguel, José Inácio Bandeira, Lino Filipe Franco a Manuel Malheiros. Com o mesmo reconhecimento foram abrangidos os bombeiros auxiliares: Manuel Lopes Leitão e Inácio Gonçalves, bem como os bombeiros fora do activo incluídos no Quadro Honorário: António Belarmino Rodrigues, vulgo António Serafim, Luís da Costa, vulgo Luís Caseiro, José Rosado do Rio e Manuel António Malheiros. Não foram esquecidas algumas firmas e particulares com lembranças alusivas àquela efeméride: Manuel Mamede & Irmão, Lda, Victor João Albino de Almeida Baltazar, Alcides dos Santos Martins, Américo Mendes Machado, António de Matos Leitão, António Rodrigues, vulgo António Minó, Francisco de Jesus Salvador, Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, Joaquim Leitão, José da Conceição Fernandes Bento, viúva de Miguel Rocha, Renato Pereira Fortes, Rui Vitorino Leitão, Luís Manuel Judas Botelho, Banco Português do Atlântico, Carlos Norberto Freitas Mota e presidente da Câmara Municipal de Peniche, António Assalino Rosa Alves.
As promoções também estavam na ordem do dia. Assim, foram promovidos a bombeiros de 3° Classe: António José Chagas Mesquita, José Manuel Franco, Francisco Luís Dias Cândido, Carlos Manuel Tomás de Sousa Pedro Manuel da Conceição Rogério, Carlos Alberto Remigio Garcia e Mário Manuel Marques; bombeiros de 2° Classe:
Francisco Manuel da Costa Zaragoza, Pedro de Almeida Gonçalves Pereira, José Ribeiro Jorge e Edmundo da Conceição Morgado; por último, a bombeiro de la Classe foi promovida António Berto Martins Alfaiate. Havia agora que fazer a entrega das condecorações aos soldados da paz, considerado sempre um ponto alto de reconhecimento no cumprimento dos seus deveres, confirmando nos seus juramentos o seu dever cumprido. Assim, com a medalha de cobre (uma estrela) foram condecorados os bombeiros do Quadro Auxiliar: António Garcia Couto, Joaquim São Bento Correia, Nelson Rocha, Joaquim Hermenegildo Cadilha Leitão e Manuel Lino Trindade Franco; a bombeiro de 1° Classe: António Berto Martins Alfaiate e Gabriel Vitorino Viola; a bombeiro de 2° Classe: José Ribeiro Jorge, Edmundo da Conceição Morgado e Francisco Luís da Silva. Com medalha de prata (duas estrelas) foi distinguido o bombeiro de 1° Classe António Filipe das Neves e bombeiro de 2° Classe Gabriel Vitorino Finalmente, com a medalha de ouro (duas estrelas) foram distinguidos o chefe Elísio Vieira Carriço, chefe Narciso Augusto Rosa de Castro e o subchefe José Alexandre.


sexta-feira, novembro 29, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche IV

Texto: Fernando Engenheiro
No mesmo dia da inauguração da Casa Escola foi promovida pela direcção daquela associação uma homenagem ao senhor Aires Henriques Bolas, ex-presidente da direcção e um dos lídimos pilares robustecedores da vitalidade da prestigiosa e humanitária colectividade. O acto teve lugar no salão de recreio da referida associação, ao qual assistiram as individualidades de maior destaque da então vila de Peniche, nomeadamente o presidente da câmara, Vítor João Albino de Almeida Baltazar; o presidente da assembleia-geral, António da Conceição Bento; o presidente da direcção, Renato Pereira Fortes; o comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho; o vice-presidente da autarquia, José      Acúrcio Vidal de Carvalho; e, além de outras individualidades, os representantes da imprensa. Usou da palavra Renato Fortes, que explanou a significação do acto e agradeceu a presença de todas as entidades, inclusive a dos representantes da imprensa, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho fez a apologia da acção relevante de Aires Bolas, patenteada pelas seus 32 anos de ininterrupta e diligente actividade na respectiva associação e, finalmente, usou da palavra o homenageado que, comovidamente, agradeceu a sensibilizante festa que lhe tributaram. Seguidamente Aires Bolas recebeu das mãos do presidente da câmara uma salva de prata e das mãos do comandante da corporação um pergaminho contendo os nomes de todos os bombeiros que faziam parte do corpo da filantrópica associação. Seguiu-se um Porto de Honra.
Ainda na década de 60, o Instituto de Socorros a Náufragos fez uma consulta à Corporação dos Bombeiros para saber se estava interessada e capacitada para colaborar na área do salvamento marítimo. Como já era do conhecimento geral, sempre que havia problemas de náufragos, os Bombeiros Voluntários estavam de mãos dadas com a aquela entidade. Não faltaram boas informações. Desde Março de 1933 o Capitão do Porto de Pen pôs à disposição dos Bombeiros o carro porta cabos daquela organização marítima, equipamento desaparecido há já longos e de que foi dada baixa ao efectivo. Por tudo isto, a 17 de Maio de 1966, na Praça Jacob Rodrigues Pereira, foi entregue à corporação, pelo então comandante do Porto de Peniche, acumulando as funções de administrador do Instituto de Socorros a Náufragos com sede em Peniche, capitão tenente Munoz, na qualidade das suas funções naquele instituto, depois de benzida pelo Pe. António da Silva Almeida, natural de Salreu, capelão da Colónia Infantil de Nossa Senhora dos Remédios em Peniche, a viatura Land Rover ‘Porta Cabos material da maior utilidade para o salvamento de sinistrados no mar, permitindo o aumento das possibilidades de socorrer a quantos a tragédia batesse à porta.
Na mesma década, mais propriamente a 19 de Junho de 1962, por deliberação camarária naquela data, foi atribuído aos ‘soldados da paz’ que formam a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, pelas acções desenvolvidas a bem de Peniche e concelho, a medalha de ouro de recompensa da vila de Peniche, Também pela governador civil do distrito de Leiria foi dada conheciment à Associação dos Bombeiros Voluntários desta vila, de um louvor do ministro do Interior, às entidades que mais contribuíram para a prontidão e eficácia dos socorros prestados às vitimas do lamentável acidente ocorrido no dia 15 de Fevereiro de 1963, com o elevador que liga a vila da Nazaré ao Sítio. Nas referidas entidades, distinguiu o representante do Governo no nosso distrito, a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche pela sua activa participação nos referidos socorros.
Em 1964, nas comemorações do 350 aniversário da fundação daquele organismo de solidariedade humana, foi celebrada missa campal no Largo Bispo de Mariana por alma dos bombeiros falecidos e seus familiares, bem como uma romagem ao cemitério com colocação de flores aos membros falecidos que constituíra a instituição. Seguiu-se um simulacro de incêndios, com demonstrações de materiais de combate a incêndios.
Em 1967 foi oferecido um auto com capacidade para 6.000 litros de água e que se deve, sobretudo, a um gesto altruísta da firma Manuel Mamede, L.da, e ao espírito de colaboração da Câmara Municipal no que diz respeito às necessárias obras de modificação daquela viatura, e ao Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios que contribuiu com o subsídio de 20.000$00.
Impunha agora a construção de um novo quartel, pais já não era possível, com um corpo de bombeiros em plena forma e um grupo de 6 viaturas, sendo 4 para combate de incêndios, 1 para socorros a náufragos, com respectivo atrelado, uma outra para serviços de ambulância, 2 moto bombas para serviços de incêndios e outras tantas para serviço de esgotamento, manter-se a corporação num pobre e modestíssimo quartel, em edifício de renda, incapaz para acomodar todo o pessoal e material. Assim, em 1969, para obtenção do necessário terreno junto da Casa-Escola da Travessa do Matinho, foi adquirido um armazém a Emídio Barradas, por 350.000$00: (escritura de 16 de Dezembro de 1969, lavrada 110 Livro de Notas n°. 20 do Notário Privativo da Câmara Municipal de Peniche). Meses antes, em Junho do mesmo ano, num terreno municipal contíguo, havia já sido lançada a primeira pedra do novo quartel, na presença do inspector de incêndios da Zona Sul, coronel Rogério de Campos Cansado, acompanhado pelo então presidente à frente dos destinos do Município, Vítor João Albino da Almeida Baltazar. Aproveitando a cerimónia, foram benzidas pelo pároco das freguesias de Peniche, Pe. Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, as viaturas que tinham sido recentemente adquiridas: uma Citroen ID, a que foi dado o nome de ‘Vila de Peniche’,tendo sido madrinha que nos honrou com a sua presença, a esposa do presidente da Câmara Municipal, Helena Baltazar, e um carro de nevoeiro GMC, todo-o-terreno, baptizado com o nome do comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, tendo sido madrinha a sua esposa, que também nos honrou com a sua presença, Ruth Freire Vidal de Carvalho. No mesmo dia em acto solene, já em recinto fechado, foram distinguidos, durante as cerimónias, com a medalha de cobre que corresponde a mais de 5 e menos de 15 anos de actividade, o bombeiro de 2° classe n° 8 - Luís Moreira das Neves, bem como o bombeiro de 3° classe n°11 Jacinto dos Prazeres Santos. Com a medalha de prata, que corresponde a mais de 15 e menos de 25 anos de actividade subchefe Albertino Jesus da Silva, bombeiro de la Classe n°1 - Joaquim Miguel Eustáquio Souzinha; bombeiro de l° Classe n° 2 — Patrício dos Ramos; bombeiro de 2° Classe n°5 — Sebastião Maria das Neves, bombeiro de 2° Classe n° 6 - José Alexandre e bombeiro de 2 Classe n° 7 - Fernando Luís Malheiros Lopes. Com a medalha de ouro, que corresponde a 25 ou mais anos de actividade, foi distinguido o chefe do material — António da Graça e o Bombeiro de 2° Classe n° 4— Joaquim Rogério Adão.
Na mesma década, mais propriamente em 1969, dado o êxito, a duração da improvisada fanfarra, resolveu a direcção dos Bombeiros constituir cm definitivo uma fanfarra com o número mínimo de 14 elementos e para isso adquiriu os respectivos instrumentos: um bombo, duas caixas, dois tambores, oito clarins e dois baixos, lembrando que o seu começo foi constituído por José Matias, Joaquim Alves Bartolomeu e Renato Neves, figuras que destacamos em primeiro plano. A 3 de Julho de 1969 está em bom andamento a concretização do novo quartel na Travessa do Matinho, sendo apresentado por aquela associação humanitária um ante-protejo da obra, da autoria do ex-Pe. Alcides dos Santos Martins, filho que foi desta terra, e que se dignou ofertar todo o trabalho de gabinete técnico. Em Maio de 1969, durante a presidência de Américo de Deus Rodrigues Tomás, numa das deslocações a Peniche em visita oficial, a direcção e comando dos BVP recebendo o Chefe de Estado nos Paços do Concelho, quiseram dar conhecimento ao supremo da nação que, doravante, passaria a ser sócio daquela instituição humanitária, conforme relata um pergaminho que lhe foi entregue na altura e que recebeu com muita honra e agrado aquela distinção de uma instituição que faz parte do nosso país e que tanto tem contribuído para o bem-estar dos seus habitantes.
Decorria o ano de 1970, por altura do 41° aniversário encontrava-se de luto esta instituição, por ter falecido recentemente de morte si o seu ajudante do comando e um bombeiro em defesa da Pátria no Ultramar, foram por estes motivos encerradas quaisquer manifestações usuais no decorrer daquele ano. Tratou-se de João Francisco da Graça, nascido a 5 de Janeiro de 1913 e falecido aos 57 anos a 4 de Março de 1970. Deu entrada no Corpo de Bombeiros de Peniche a 19 de Junho de 1932, como aspirante; foi promovido em 1933 a bombeiro de 3a e em 1935 a 2° Classe. Em Dezembro de 1944 voltou a ser promovido, desta vez a bombeiro de 1° Classe. Dada a sua enorme dedicação e abnegação, em 9 de Junho de 1959 é elevado a subchefe da corporação. A sua ascensão não termina aqui, pois a 30 de Junho de 1960 é nomeado chefe de material e, por último, em 1968, por proposta do Comando e homologado pelo inspector dos Serviços de Incêndios, ascendeu a ajudante do Comando, O extinto era possuidor das medalhas de cobre (por relevantes serviços prestados à Associação dos Bombeiros); prata (por bom comportamento); e ouro (por 25 anos de serviço). Joaquim Francisco Rodrigues da Silva, natural de Peniche, onde nasceu a 20 de Agosto de 1947, faleceu em combate na Província de Moçambique a 30 de Outubro de 1970, alistou-se nesta corporação em Junho de 1966, tendo alcançado a promoção a bombeiro de 3° classe com a classificação de 18 valores, em Fevereiro de 1967. Antes de se fazer a deposição dos restos mortais do heróico soldado no fundo da campa, o presidente da Câmara, Francisco de Jesus Salvador, a pedido dos elementos directivos dos BVP fez oferta à mãe daquele defunto, duma medalha de prata, símbolo de gratidão e de homenagem da parte de quantos servem a mesma corporação. Lembro aqui também incluído no mesmo luto que afectou a corporação, António Delgado Miranda, vulgo António Correeiro, falecido com 62 anos de idade a 20 de Março de 1970, que foi membro por longos anos ao serviço da Corporação dos Bombeiros. Aquela instituição prestou-lhe a devida homenagem de manifestação e pesar acompanhando-o à sua última morada.
Com referência ao novo quartel para os Bombeiros Voluntários de Peniche, em 27 de Setembro de 1970, a edilidade aprova, por unanimidade, a alienação gratuita de terreno de 948 metros quadrados à Associação dos Bombeiros, para ali ser implantado o seu quartel/sede. Em aditamento àquela cedência, a Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, impõe algumas clausulas, de salientar a alínea b): “Se não for cumprido o prazo estipulado ou se o terreno cedido for dado destino diferente daquele que justifique a cedência gratuita, reverterá o mesmo para o Município, incluindo as benfeitorias nele efectuadas, sem direito a qualquer indemnização Também o Governo Civil do Distrito de Leiria se pronunciou sobre o assunto, concordando com as deliberações camarárias de 2 de Setembro de 1970, bem como as cláusulas propostas pela Direcção Geral de A.P.C. do Ministério do Interior. Todo este processo culminou com o despacho ministerial de aprovação em 12 de Julho de 1971.
Foi grande a luta para se conseguir alcançar o objectivo desejado. Toda a corporação se empenhou na construção do novo quartel, tendo a trabalhar ao lado do seu comandante Luís Filipe, o então presidente da direcção Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, também grande impulsionador desta importante obra para a época. Em fins de Outubro de 1972, está concluída a primeira fase das obras do novo quartel dos bombeiros, começando nesta data a ser utilizado o respectivo parque de viaturas. Surgem as primeiras bandeiras que representam aquela instituição a flutuar ao vento na fachada inacabada. Resolveu a direcção, com o acordo unânime do corpo activo, data este parque de viaturas o nome do seu comandante, mostrando assim o quanto reconhecem o seu esforço a uma causa de tanto interesse para o bem comum da nossa terra, ao mesmo tempo perpetuando o seu nome naquele espaço.
Procedeu-se à transferência das viaturas para a nova unidade e foi com uma ponta de saudade e comoção que se assistiu à passagem na zona principal de Peniche no seu trajecto da primeira viatura (carro braçal), que se destinava a pronto socorro dos Bombeiros Voluntários de Peniche, A viatura em causa foi conduzida pelos bombeiros daqueles primeiros tempos: Manuel António Malheiros, António Belarmino Rodrigues, vulgo António Serafim José do Rio e Luís da Costa, vulgo “Luís Caseiro”.



terça-feira, novembro 19, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche III

Por: Fernando Engenheiro
Pela primeira vez o benemérito e brioso corpo activo da Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche quis agradecer ao segundo- comandante dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e comandante da Corporação de Peniche, Paulino Pereira, atribuindo a medalha de ouro como reconhecimento de todo o esforço desempenhado na conduta de instrutor desta corporação, sem qualquer remuneração nas suas presenças e deslocações a esta então vila, durante dois anos, deixando todos os soldados da paz aptos no desempenho das suas atribuições. Assim, foi deliberado em acta da sessão ordinária de 5 de Novembro de 1933 o seguinte: propunha que, a exemplo do que fizeram outras associações que dele receberam igual favor da sua valiosa instrução, se mandasse cunhar uma medalha de ouro com o escudo desta associação, tende no reverso a legenda “Honra do valor” da qual se lhe faria entrega naquele dia, acompanhada do respectivo diploma. A direcção aprovou por unanimidade o alvitre, que partiu também do nosso segundo comandante, vogal António Adelino Gomes da Silva, que se encarregou de mandar cunhar a referida medalha e desenhar o aludido diploma.
A luta por fazerem mais e melhor era constante e a acção dos bombeiros não se ficava só pelos incêndios, As grandes tarefas de socorro que se apresentavam no dia-a-dia, cada uma com o seu
problema especifico, fez sentir àqueles soldados da paz a necessidade de melhor se apetrecharem, confrontados muitas vezes com situações de perigo no combate a incêndios, ficando eles próprios sujeitos a traumatismos, queimaduras, asfixia e, em alguns casos, afogamentos. Assim, cedo se aperceberam das suas carências no campo da saúde. Mas não são só os incêndios que clamavam a sua presença. O naufrágio conta com eles para salvar a vida; o ferido confia na sua assistência; o doente vê nele alivio para os seus males; o invalido considera-o o seu complemento.
Têm sido muitos os naufrágios ao longe dos tempos ocorridos na nossa costa, auxiliados por este grupo de voluntariado. Lembro aqui o navio inglês “Ingland Hope’ da empresa Nelson Laine, ocorrido no Farilhão a 19 de Novembro de 1930, embora com poucos recursos não deixaram de prestar auxilio em receberem os náufragos e
dando-lhes a devida assistência; o navio espanhol “Fernando Ibarra” naufragado em Vale de Janelas a 20 de Dezembro de 1943, que fez a oferta a esta colectividade humanitária de 1.500$00 pelos serviços prestados; o vapor francês “Henry Mory” abicado na Papôa a 6 de Outubro de 1931, deram o seu contributo possível no auxilio aos tripulantes; “João Diogo’ navio português encalhado na Papôa a 8 de Janeiro de 1963, também lhes prestaram todo o auxílio ao seu alcance; e tantos outros que o tempo apagou mas que na memória dos membros que contribuíram nestas façanhas nunca estão esquecidos, recheados das mais diversas histórias.
Mas não é só nos reveses da vida que a sua acção se faz sentir. A sua participação em manifestações de carácter cultural e social é também digna de menção e reconhecimento de todos nós. Em 1940, quando o transporte de feridos e doentes era encarado como uma prioridade por aquela associação humanitária, a Junta de Provincial da Estremadura cedeu-lhe, a título gratuito, um automóvel, com o fim de ser adaptado a auto-maca.
No que respeita à representação dos Bombeiros, logo apôs a aprovação dos estatutos, havia que pensar num “emblema” que distinguisse aquela corporação. Com as sugestões de Afonso Dornelas, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, expressas, com o exemplar propriedade no brasão adaptado pela Liga dos Bombeiros Portugueses, foi criado para esta corporação o seguinte distintivo: “Brasão da então Vila de Peniche, sobreposto a um troféu, constituído por dois machados cruzados em aspa, e o conjunto suportado por uma fénix, de usas soltadas. Sotoposto ao escudo, um listel com uma legenda: ‘VIDA POR VIDA’ Bandeira com o fundo esquartejado: o primeiro e o quarto a vermelho; o segundo e o terceiro a preto.”
Também para vincular a sua representação cm cerimónias diversas, havia que mandar fazer um estandarte, Assim, foi convidada Isabel Ribeiro Artur a constituir urna comissão de senhoras para colaborarem na obtenção de fundos para aquele efeito. Foi na devida altura encarregada da elaboração do trabalho Beatriz de Sousa Tavares, natural de Peniche e residente cm Lisboa, pessoa cujos méritos em trabalhos daquela natureza eram sobejamente reconhecidos no nosso meio, autora que já era do estandarte municipal. Em Novembro de 1940 é recebido com grande júbilo a notícia de que a autarquia, da presidência de Luís Pedroso da Silva Campos, resolvera mandar instalar um telefone fixo, naquela associação, sem encargos para a colectividade.
Continuava-se por todos os meios e acções a adquirir verbas para satisfazer as despesas correntes em especial com fornecedores. A direcção, em sessão ordinária de 6 de Janeiro de 1941, propôs para se entrar em negociações de arrendamento do armazém com o seu proprietário José Gago da Silva, que possuía na Travessa de Nossa Senhora da Conceição, onde foi a sua fábrica de conservas.
Pretendia esta entidade explorar aquele espaço com bailes no Carnaval, cuja época festiva se aproximava, em virtude de já se ter aceitado a proposta do Grupo de Jazz “Os Luziados” de Peniche, por tempo indeterminado. Foram longos os anos que esta colectividade ali teve os seus divertimentos com recinto para bailes com bar. Chegou aos nossos dias aquele espaço de divertimentos público com a designação de “os bailes do Esfrega’.
Em 1943, coma devida autorização do proprietário do imóvel, António Andrade, onde funcionava a Sede dos Bombeiros, foi possível alterar a fachada, rasgando o portão da entrada principal, para poderem entrar os meios de transporte, de modo a ficarem mais bem acondicionados e ao mesmo tempo resguardados das intempéries. Também em Maio de 1944 os consórcios Joaquim Guilherme Fana Júnior e Luís Gonzaga Ferreira Correia Peixoto, ambos industriais de pescarias, ofereceram para ser montada no telhado da sede uma sirene, Ficou assim dispensado o auxílio do sino grande das torres das Igrejas de São Pedro, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição, de que permanentemente pendiam cordas para o exterior, com a finalidade de serem usados para alarmes quando ocorriam situações carentes da intervenção dos bombeiros.
Recordo aqui e presto a minha devida homenagem a Salvador das Neves, por exercer as funções de contínuo da sede, a partir de Setembro de 1948, que se prolongou por mais de três décadas, em substituição de Gabriel Pinto Vitorino, que foi um servidor exemplar, que la além das funções para que foi destinado, sempre pronto a servir e estimado por todos os elementos que constituíam aquela Casa Humanitária. A 11 de Dezembro de 1949, chegou a Peniche a nova automaca para ser entregue a esta associação, por deliberação da mesma entidade de 6 de Novembro do mesmo ano, tendo sido convidadas as entidades oficiais, o pároco os sócios e a população em geral.
Foi a partir do dealbar da viragem do segundo quartel do século XX que a direcção constituída por Alberto Monteiro de Proença (presidente), Aníbal dos Santos (secretário), Aires Henriques Bolas (tesoureiro) e António da Conceição Bento (vogal) quiseram honrar alguns dos seus soldados da paz no dia do 21° aniversário daquela corporação acompanhado de um beberete, conceder medalhas de prata, de bom comportamento, aos seguintes bombeiros: Manual António Malheiros, com 21 anos de serviço; António Belarmino Machado, vulgo António Serafim, com 16 anos de serviço; Inácio Luís Seia, com 21 anos de serviço; Luís da Costa, vulgo Luís .Caseiro, com 18 anos de serviço; José Rosado Rio, com 21 anos de serviço.
Depois de 30 anos de plena actividade, em que estiveram no Comando dos Bombeiros Paulino Pereira, segundo-comandante da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e comandante-honorário da Corporação de Peniche, António Adelino Gomes da Silva, Domingos Junqueira Fernandes Félix Pilar, António Alves, Joaquim de Paiva, Alberto Monteiro de Proença e Manuel António Malheiros, entrou ao serviço da corporação como seu comandante, em Novembro de 1958, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, funcionário corporativo, natural de Peniche, homem dinâmico, com os seus 30 anos de idade, cheio de boa vontade de servir e de acertar.
A corporação sentiu desde logo o seu entusiasmo e a humanitária colectividade viveu um salutar remoçamento, promessa dum regresso aos tempos em que os voluntários de Peniche lograram um crédito que os guindou a invejável altura, renovação que saltava aos olhos dos que de perto acompanhavam a vida da instrução. O interesse de então não somente se manteve mas foi avolumado, mercê de um querer forte, secundado par toda a corporação. A 23 de Julho de 1961, na presença do ministro das Obras Públicas, Arantes de Oliveira, bem como de um representante do ministro do Interior (actual Ministério da Administração Interna) e delegações de dez corporações deste distrito, fossem benzidas, em frente da sumptuosa Igreja de São Pedro, desta então vila de Peniche, três novas viaturas: um auto-tanque pronto-socorro, uma ambulância e um “jeep’ Tiveram como madrinhas dos respectivos veículos, respectivamente, Mariete Monteiro Dias Bento (esposa de António da Conceição Bento), Dulce Freire Vidal de Carvalho filha de Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, e Maria da Glória Salvador Henriques, esposa de Aires Henriques Bolas. Também no mesmo dia foi inaugurada a Casa Escola no logradouro do futuro quartel, nas imediações da Rua do Martinho Foi dada aquela construção como pequeno reconhecimento o nome de António da Conceição Bento, em actividade na presidência da Câmara Municipal na época.

sexta-feira, novembro 08, 2013

A loja do Laurindo





Situada na rua Garrett, em Peniche, esta loja foi até o dono abandonar este mundo, o que hoje chamamos comércio de proximidade, para a minha geração era um ponto de encontro, o local que estava aberto fora de horas, quando nos faltava uma caixa de fósforos, ou que se acabou o gás.


Nos anos 60 do século passado, era também no Laurindo que as nossas mães se iam aviar, comprar o petróleo para os candeeiros, ainda me lembro do cheiro a café, que era moído na maquina, e embalado num cartucho de papel, é uma parte da nossa vida que desaparece, que nenhum hipermercado pode substituir



Paz a sua alma.  

sexta-feira, novembro 01, 2013

SOLDADOS DA PAZ COM SEDE EM PENICHE PARTE II

Texto: Fernando Engenheiro
   No início de 1930 começou a ser construída a Casa-Escola, conhecida por “Esqueleto’ uma obra
a cargo do construtor civil mestre Serafim António Rodrigues, que foi residente em Peniche, e que se destinava aos exercícios daquela corporação. Para isso, mais uma vez tiveram o auxilio da autarquia, autorizando a exploração de toda a pedia que necessitassem, no sitio da “Gravanha’ propriedade do Município, adquirida havia pouco tempo a Da Maria da Glória Sobral Cervantes, que ficava perto do local de implantação daquele imóvel,bem como de todo o madeiramento necessário, a obter do pinhal municipal do Vale Grande, limite de Ferrel O local escolhido era um terreno particular, pela qual a sua proprietária D Raquel Monteiro Cabral Mateus Dias, exigia o pagamento mensal de 100$00 toda a conveniência na criação daquele imóvel, cuja inauguração teve lugar no dia do segundo aniversário da fundação daquela colectividade. Com o incremento dado à criação do Corpo de Bombeiros, a formação dos soldados da paz era também um importante objectivo a prosseguir, verificando-se uma acentuada tendência para a construção das chamadas - casas-escolas, onde era, e hoje ainda é, com exercícios práticos, ministrada a instrução a nível interna.
   Em Abril do mesmo ano é feita a encomenda de um carro de tracção braçal com escadas, adquirido pela importância de 6.130$00 não incluindo o despacho em caminho de ferro da cidade do Porto até a estação de São Mamede (Oeste) na importância de 613$20. Este carro, tudo leva a crer ser o que se encontra hoje exposto no espaço que. serve de museu no novo edifício da corporação e outros que se seguiram também de tracção braçal que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira) e outro transporte para diversos materiais de incêndios.
Com a criação da Liga dos Bombeiros Portugueses, em 18 de Agosto de 1930, não tardou que, a 23 de Abril de 1932, fossem aprovados pelo governador civil deste distrito, os estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de
Peniche, que comportam 46 artigos. Os novos
estatutos foram apresentados a 8 de Setembro do mesmo ano, pela comissão organizadora constituída por: José Júlio Cerdeira, José do Nascimento Ginja, António Nunes Ribeiro, António Adelino Gomes da Silva e Aires Henriques Bolas.
   Para comemorar o segundo aniversário da fundação dos Bombeiros Voluntários de Peniche e prestar homenagem póstuma ao seu fundador, António Maria de Oliveira, realizou-se no dia 21 de Julho de 1931, uma sessão solene com a assistência da Comissão Administrativa, administrador do concelho e mais entidades a quem foi dirigido convite. Foi descerrada uma fotografia daquele ilustre fundador a perpetuar naquela sede a sua presença, lembrando para sempre os seus mais nobres actos em prol do seu semelhante.
   A partir de Setembro de 1932, o Quartel do Corpo de Bombeiros fez a sua transferência para o Largo D. Pedro V. Tratava-se de um armazém pertencente a um edifício que o seu proprietário, António Andrade, industrial em Peniche, tinha alugado para sede da Cooperativa Auxiliadora Penichense, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, constituída por escritura em 2 de Setembro de 1919, cujos destinas eram dirigidos pela próprio proprietário do imóvel e por Miguel Olavo Franco, Mário José Gomes e José do Rosário Leitão. Com consentimento do senhorio, foi aquele espaço subalugado à Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, cabendo a responsabilidade do aluguer àquela cooperativa por 90$00 mensais. A Câmara Municipal, em Outubro de 1932, tomou conhecimento que estava desocupada a casa que então serviu de Quartel do Corpo de Bombeiros, numa das dependências no piso inferior do edifício dos Paços do Concelho, pais o quartel havia sida transferido para o Largo D. Pedro V.
   Só mais tarde, em Setembro de 1946, já sendo proprietário o Dr. Jaime Silva Sardinha Mata, residente em Baleizão (genro de Antónia Andrade), foi feito o contrato de arrendamento, par 120$00 mensais, a favor daquela corporação. Com a boa vontade do inquilino foram dispensadas, a partir de 5 de Abri! de 1937, as dependências da parte de três, que dava para a Rua Tenente Valentim. Era naquele espaço que a cooperativa depositava a lenha para distribuir em épocas de crises pelas mais necessitadas.
  Mesma assim, lutava-se com as escassos espaços na desempenha das funções daquela instituição, pela aquisição de mais e mais material para o desempenho no serviço contra os incêndios Em 1935, os Bombeiros Voluntários de Peniche já possuíam três carros de braçal, que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira), “carro escada’ e “material diverso” e na mesma ano entram em negociações com a firma Guérin, Lda, de Lisboa, para a compra de uma camioneta de marca “Fargo’ com o fim de aproveitar o chassis, adaptando-o a pronto-socorro. Por deliberação camarária de 25 de Fevereiro de 1935, foram concedidos plenos poderes ao vice-presidente da Câmara, António da Conceição Bento, que também desempenhava as funções de tesoureiro daquela corporação, para representar a Câmara junto da referida firma e da Alfândega de Lisboa para a aquisição do veiculo. Ficou a despesa por 20.500$00, sendo pagos pela autarquia 15.500$00 e ficando o restante a cargo da corporação.

  No mesmo ano, também a Câmara Municipal se responsabilizou pelo pagamento de uma moto-bomba, tipo “Liliput Magyrus fornecida pela firma H. Vaultier, tom actividade em Lisboa, pela importância 22.500$00, sendo este maquinismo para lançar a água na extinção de incêndios, pela importância de 15.000$00 e o restante em utensílios para adaptar na referida máquina. Foi na época uma aquisição de grande utilidade. Ainda hoje são bombas aspirantes-prementes, accionadas sempre mecanicamente que elevam a água de poços ou de tanques portáteis, alimentados pelas bocas de incêndios dos prédios ou dos passeios das ruas, em ligação com a rede de distribuição de água. Têm estas bombas anexos compressores de ar, que o motor dos carros acciona os quais comprimem a água até à pressão suficiente para que, pelas mangueiras ligadas à bomba, possa a água jorrar à altura precisa. Houve na época a grande necessidade de adquirir todo este conjunto de material de modo a que a corporação tivesse mais salvaguardada em futuros acidentes, pois não estava esquecido o grande incêndio ocorrido a 6 de Setembro de 1932, no edifício onde funcionava a drogaria de Luís do Patrocínio David Chave substituído por um imóvel de três pisos onde ainda nos fins da década de 80 do século passado funcionou a Estação dos Correios Telégrafos e Telefones no Largo Dr. Figueiredo Fana em Peniche. Do edifício ficaram apenas as paredes. O incêndio, que pareceu ter tido origem num curto-circuito, ameaçou propagar-se aos prédios contíguos e até as chamas estavam prestes a ultrapassar o largo para as outras construções. Em face de todo este perigo, foram solicitados os socorros dos bombeiros das Caldas da Rainha e Lourinhã, que pouco puderam fazer com as suas tão desejáveis presenças. De salientar que a grande falta de água foi o pior inimigo do sinistro. No começo dos trabalhos de extinção, tornou-se necessário cortar a corrente eléctrica, que toda ela era derivações aéreas. O povo alarmado, precipitadamente supôs que toda a vila iria ser pasto das chamas. Os habitantes abandonaram as suas residências, de súbito em trajos menores, correndo a buscar paradeiro sem perigo, na praia e nas rochas. Este ?acidente motivou prejuízos avaliados em 100 contos na drogaria e no prédio destruído, e em algumas dezenas de milhares de escudos nos edifícios contíguos.
 À frente deste lutador incêndio contra o homem, estava a comandar os trabalhos o primeiro comandante-interino, desde a fundação da corporação, António Adelino Gomes da Silva, natural da cidade do Porto e residente em Peniche desde 1923, exercendo a profissão de mecânico numa das empresas de motores ligadas à pesca. Não se sabe as razões que o levou pouco mais de dois meses e meio após aquele pavoroso incêndio, a 27 de Novembro de 1932, passar a exercer naquela instituição o desempenho de segundo comandante, dando o lugar de primeiro comandante a favor do tenente Rosa Mendes, com autorização superior do comandante-geral da Guarda Fiscal.
(continua no próximo número)

quarta-feira, outubro 30, 2013

SOLDADOS DA PAZ COM SEDE EM PENICHE

 
Texto: Fernando Engenheiro
    
    A necessidade de preservar a continuidade das espécies tem sido, ao longo dos tempos, uma constante preocupação do homem. Acompanhando a evolução da técnica e o crescente número de riscos, o homem procura criar meios que lhe sirvam de protecção e conservação do seu meio. O reconhecimento da acção destruidora do fogo levou os nossos antepassados a precaverem se contra os efeitos catastróficos dos incêndios. Assim, os hebreus e os gregos criaram as vigias nocturnas encarregados de efectuar rondas e dar o sinal de alarme em caso de perigo. Missão idêntica havia na antiga Roma.
   Em Portugal, corria o ano de 1395 que a primeira carta régia sobre o assunto é expedida pelo então soberano D. João I, “de Boa Memória” assim chamado pelo que deixou no mundo de suas acções ilustres. Nela se estipulava um sistema de vigilância nocturna e aviso às populações, através dos pregoeiros, alertando para os cuidados a ter com o lume em suas casas. Foram também definidas normas de actuação para extinção de incêndios e vigilância contra os roubos frequentes nestas ocasiões. Desde então e até aos nossos dias foram várias as reformas e os melhoramentos introduzidos neste serviço indispensável para o bem da humanidade. No entanto, o caminho percorrido foi moroso e difícil. Nem sempre a existência de meios era suficiente para fazer face às necessidades.
    Em relação a Capital do Reino, determinava que, em caso de incêndios, todos os habitantes, homens e mulheres, tinham de correr em socorro, munidos de machados, cântaros, potes e outros instrumentos que facilitassem o combate ao fogo. É este documento considerado a primeira ordenação que estabelece regras empíricas para apagar incêndios. Embora nele se determine a colaboração da população, essa ordenação não é mais do que um apelo ao voluntariado e à solidariedade que deve estar presente nos momentos de tragédia. Só mais tarde, porém, já na quarta dinastia, reinando o soberano D. João V, o rei cognominado por “Magnânimo’ por lhe não parecer difícil nenhuma coisa, que empreendia, e pela grandeza de suas acções, foi introduzido uma prática de combates aos fogos, baseados em experiências realizadas em França com resultados satisfatórios, com base na grande invenção para a época, das bombas de incêndios, decorrida no ano de 1722.
Criada então a Companhia de Incêndios, transformada mais tarde em Corpo de Bombeiros foi, no entanto, por iniciativa de Guilherme Cossoul (1828-1880), que se instituiu a primeira associação de bombeiros que no voluntariado tinha a sua razão de ser. Foi assim que, de época para época, numa evolução permanente, com a força de vontade de alguns e o espírito de servir de muitos, que se foram criando os alicerces e consolidando as estruturas dessas heróicas corporações de voluntários. Constituem hoje o fulcro, o dinamismo e a força dessas altruísticas Associações de Bombeiros Voluntários formadas por homens desinteressados e íntegros, que sabem dar-se na protecção e defesa do semelhante.
   Em Peniche, não se sabe ao certo a data em que se criou uma instituição visando a defesa dos haveres e vidas dos cidadãos em caso de fogo, embora tomamos em consideração, tal acto de servir o povo de Peniche, tivessem a cargo dos membros aquartelados na Fortaleza, na defesa da Península, conforme documentos de uma época que comprovam a sua actuação. “Documento lavrado em ata a 20 de Julho de 1873 que se refere a um oficio do Governador da Praça Conselheiro Joaquim Ferreira Sarmento, nos seguintes termos: Pedindo à Câmara lhe dispense, para guardar a Bomba de apagar incêndios, numa casa que esta Câmara possui na Rua da Palha, por ser mais central e no interior da povoação. A Câmara, em vista das ponderações feitas pelo dito Governador, concedeu a casa pedida para o fim indicado’.’
   Tratava-se de uma dependência na actual Rua 13 de Infantaria, pertencente ao Município, onde funcionou a antiga “Casa da Fanga” (celeiro municipal), vendida pela Câmara Municipal a um particular, Emídio Balbino, por escritura lavrada a seu favor em 1905. Passados 12 anos, a 14 de Março de 1885, no impedimento do major da praça, Manuel Ferreira Bret, o tenente-ajudante da mesma guarnição militar manda à Câmara Municipal uma cópia daquele oficio, vinculando ou talvez renovando a continuação daquela cedência a favor dos serviços militares. Não se sabe quando deixaram de exercer estas funções, assim como se desconhece também rigorosamente o seu começo.
   Havia que tomar algumas previdências para que se criasse um corpo de bombeiros pois os incêndios eram frequentes. De salientar o incêndio deflagrado de 13 para 14 de Fevereiro de 1922, às 22h00, no armazém de redes das Armações do Romina, construído em madeira e localizado no exterior da muralha, no ângulo da muralha a norte, junto à entrada por Peniche de Cima. Outro ocorrido, em 28 de Outubro de 1926, na mercearia de José do Rosário, em Peniche de Cima, de que resultou perda total do seu recheio. Havia assim a grande necessidade de criar em Peniche, de apoio também ao seu concelho, uma corporação de bombeiros, a exemplo das sedes de concelho vizinhas, que nos auxiliavam bastante em casos de emergência. Nesse sentido, em sessão camarária de 4 de Junho de 1929, presidida por António Maria de Oliveira, tendo como colaboradores os vogais Joaquim Guilherme Fana Júnior e Miguel Olavo Franco, foi tomada a seguinte deliberação: “O Sr. Presidente lamenta que não exista em Peniche uma corporação de bombeiros e reconhecendo também que a Câmara não possui rendimentos que lhe bastem para criar uma corporação de bombeiros municipais, propõe que a comissão Administrativa desta Câmara tome a iniciativa da organização de tão útil quão benemérita instituição de forma que ela seja um facto dentro de pouco tempo. Propõe mais, que para esse fim a Comissão Administrativa nomeie uma comissão Organizadora que ficara sob o seu patrocínio a quem serão entregues as verbas que a Câmara for metendo nos seus orçamentos ajudando assim a criação deste corpo de bombeiros. Aprovado por unanimidade’.
   Não tardou que naquele mesmo mês, no dia 16, fosse criada oficialmente a Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, tomando em consideração os poucos rendimentos que a Câmara Municipal possuía para formar uma corporação de Bombeiros Municipais, o que acarretaria avultadas despesas que não estavam ao alcance da autarquia. Foi a sua primeira sede instalada no edifício dos Paços do Concelho, no rés-do-chão, funcionando no andar superior o actual salão nobre. Foi a primeira direcção constituída por António Maria de Oliveira (presidente), Aires Henriques Bolas (secretário), José Júlio Cerdeira (tesoureiro), António Adelino Gomes da Silva e António Nunes Ribeiro (vogais). Entretanto, ingressou como comandante António Adelino Gomes da Silva, que ficou a chefiar inicialmente os seguintes bombeiros residentes na área da jurisdição da sede do concelho: Manuel António Malheiros, Inácio Luís Ceia, José Rosado do Rio, José Maria Cartaxo, António Martins, Casimiro da Costa, António Diogo da Costa, Inácio Maria de Abreu, Mário Nobre Leitão, Joaquim Rodrigues Tormenta, José Inácio Bandeira, Jacinto Inácio de Sousa, Lino Filipe Franco, Rui Dias Loureiro, Reinaldo Gomes, Ângelo Gaspar da Mata, Manuel dos Santos Correia, José de Carvalho e Silva, José Maria das Neves, Joaquim Miguel Sousinha Júnior Quintino Augusto de Lemos, José Maria de Abreu, Joaquim Leal Paulo, José Pedro Júnior. Estes elementos desempenhavam as mais diversas profissões, tais como: carpinteiros da construção civil e de machado pedreiros, calafates, bem como empresários dos mesmos ramos, marceneiros, entre outros.
    A autarquia, logo no começo da sua organização, foi solidária em tudo aquilo que lhe foi possível e estava ao alcance das suas possibilidades financeiras. Também o Comando Militar da Praça de Peniche pôs à disposição as dependências da cidadela, bem como os terraços para as instruções, formaturas e tudo o que estivesse ao abrigo da sua competência militar. Não tardou que, a 16 de Julho de 1930, viram partir da vida presente o grande impulsionador desta obra, a quem a morte não deixou ver o êxito completo da sua nobre iniciativa, motivado por uma tuberculose óssea, aos 45 anos de idade, falecendo na sua residência, na Rua Dom Luís de Ataíde em Peniche, António Maria de Oliveira, que tomou posse na Comissão Administrativa da Câmara Municipal em 11 de Março de 1929, com pouco espaço nas suas atribuições que duraram até 29 de Abril de 1930, acumulando as funções de presidente da Comissão Municipal de Assistência. Figura de elevado carácter, nascido na então vila do Barreiro na freguesia de Santa Cruz, a 12 de Janeiro de 1885, jaz depositado no Cemitério Municipal de Santana em Peniche, em mausoléu mandado edificar pela Câmara Municipal.
    O seu substituto, para poder desempenhar cabalmente e com eficiência a sua elevada missão, havia que providenciar a aquisição de apetrechos, mas o dinheiro era escasso. Assim, no primeiro ano e noutros que se seguiram, para angariar receitas, realizaram-se quermesses e verbenas, no jardim público principal, jogos de futebol, gincanas, bailes, cinema, apresentaram-se grupos dramáticos organizaram-se festas diversas, incluindo a da “Flor’ e até vacadas. Peniche e a Associação dos Bombeiros Voluntários em 30 de Setembro de 1932, quis na interessante festa que a Comissão “Pró Bombeiros” promoveu no recinto do Jardim Público, na então vila de Peniche, nas noites de 11, 12, 13, 17, 18 e 19 de Setembro de 1932, agradecer a todos quanto contribuíram para a realização de tais festividades, que só foi possível com a grande colaboração dada pelas digníssimas senhoras: Beatriz de Bellegard Bello, Maria Emília Belo Dias, Adelaide Ferreira B de Carvalho Oliveira, Felicidade Rosa Mendes, Heloisa Jordão Vidal de Carvalho, Beatriz Andrade, Clotilde Sampaio Sena, Jovite Ângela de Abreu Trindade, Graziela da Fonseca Martins, Berta da Fonseca Martins, Sofia da Fonseca Martins, Olga Reis, Maria de Lourdes Bello, Maria Antónia Belo Dias, Maria Emília Santos Conceição, Maria da Graça Henriques, Ricardina Amaral, Lídia Andrade, Violeta Andrade, Maria Thereza Stichaner Roth, Lúcia Parreira, Aura Figueiredo de Magalhães, Ruth Paúrcio Vidal de Carvalho, António Nunes Ribeiro, José Júlio Cerdeira e José do Nascimento Ginja. Com toda a boa vontade dos participantes rendeu esta festa, 11.951$58, sendo um grande contributo para os apetrechos de incêndios a favor daquela instituição. Também todas as receitas em posse da Comissão Pró-Monumento a Jacob Rodrigues Pereira, por ter sido posta de parte a ideia da sua construção, reverteram a favor dos bombeiros (continua no próximo número).
ssos e Maria Cristina Parreira. E, também, a Comissão Pró-Bombeiros, constituída pelos excelentíssimos senhores: Joaquim Fana Júnior, Armando Sampaio Sena, António Adelino Gomes da Silva, António Luiz Pereira Montez, Tenente Rosa Mendes, Alberto Monteiro de Proença, Doutor José Bonifácio da Silva, Carlos Henrique Tavares Freire de Andrade, Doutor Carlos Henrique Graça, Aires Henriques Bolas, José Lopes, João Couceiro, António Mateus Dias, José Ac



sexta-feira, agosto 23, 2013

Limpeza, Higiene e Saneamento Básico em Peniche



O grande passo que Peniche conquistou ao longo dos anos.



São poucas as pessoas que se lembram de Peniche de outros tempos, com referencia ainda a nos princípios do segundo quartel do século passado, só nos resta os conhecimentos dos elementos que nos ficaram. Temos que dar a mão a palmatoria, ao recordarmos a passagem por Peniche, em Agosto 1919, do escritor Raùl Brandão, autor do livro “ Os pescadores”. No seu desabafo, fazendo referência à pouca higiene desta península, dizia: “ Peniche é horrível, cheira que tromba”. Em contrapartida, de visita à ilha do Baleal, escrevia: “que é a mais linda praia da terra portuguesa”. O escritor deu uma no cravo e outra na ferradura para não ficarmos muito magoados. Não vou discutir o que era Peniche na época, mas ao que tenho conhecimento, Raul Brandão não deixa de ter razão, declarações que possivelmente não apanharam a municipalidade de surpresa.
Na presidência municipal de Luís Maria Freire de Andrade, no triénio de 1923 a 1925, pela necessidade de tornar a zona da Ribeira mais asseada, visto que em dias de elevado movimento de pesca, este ponto da vila se tornava quase intransitável, agravado ainda com os despojos que vinham dos diversos armazéns da preparação de peixe que não possuíam os necessários esgotos, pensou a autarquia em mandar construir um colector geral que partindo do ponto mais alto, designado por peça, da então Rua Almirante Reis ( actual Avenida do Mar), fosse desaguar ao mar no porto designado por “De Revés”. Com a realização desta obra solucionou-se o problema com o saneamento da Ribeira, com a canalizações largas em alvenaria cobertas com lajedos arrancados na nossa costa.


No que diz respeito a limpeza e a higiene, Peniche estava bem longe de ser uma vila modernizada e limpa.Precisávamos, no entanto, afirmar que havia boa vontade da parte de todos os habitantes, na coadjuvação deste importante e grave problema. Na época dada as circunstâncias precárias e as dificuldades de instalação de uma rede de esgotos da vila, havia a grande necessidade de fazer desaparecer, para sempre, as estrumeiras junto das portas e dentro das habitações. Também era de toda a necessidade que algumas mães educassem os seus filhos para que deixassem de fazer na rua, junto das portas das habitações, as necessidades fisiológicas, sem respeito algum pelos mais rudimentares princípios de limpeza, de educação e de moral, transgredindo assim as posturas municipais, em que destaco o Código de Posturas da Câmara Municipal de Peniche, aprovado em sessão da Comissão Distrital de 10 de Dezembro de 1913, no capitulo XXIII da higiene e Salubridade Pública. Era preciso respeitar, pondo em prática o referido código, acabar de vez com o péssimo hábito de varrer o lixo e outras imundices para a rua, quando este devia ser reservado em caixotes tapados até podendo ser, evitando assim a aglomeração do então infernal mosquedo, e os quais todos os dias da manhã se colocavam às portas das habitações para serem recolhidos pelo pessoal da limpeza ao serviço do Município e despejado nas respectivas carroças do lixo, então na época puxadas por um macho.

Em continuação com os velhos usos e maus costumes da época, era preciso, finalmente, pôr termo ao vergonhoso e repugnante espectáculo dos grupos de certas mulheres que, sem respeito algum pelos habitantes e por quem nos visitava, se entretinham, nalguns pontos até mais frequentados da vila, despiolharem-se com o maior descaro, atestando, assim, a sua grande falta de asseio, tanto corporal como espiritual.


No meio de todos estes cumprimentos a exigir da população o melhor sentido de viver, procurando recursos mais favoráveis à saúde em geral, havia também que pôr mãos à obra das condições sanitárias necessárias para assegurar a qualidade de vida da população, através da canalização dos esgotos para usos domésticos, com o desempenho das águas pluviais que lhes serviria de descarga na limpeza das canalizações, direito ao mar . Foi a partir de 1942, na presidência da Câmara Municipal de José Bonifácio da Silva, que a firma 'Fábricas Jerónimo Pereira Campos & Filhos', com sede em Aveiro, forneceu à autarquia, manilhas de grés cerâmica e acessórios destinados à rede de esgotos de Peniche. Foi o referido contrato assinado com a firma fornecedora a 9 de Julho de 1942, pela importância de 311.673$45, depois da deliberação camarária tornada em sessão no dia 2 daquele mês e ano, cuja a obra só foi possível pelo empréstimo feito daquela importância à Caixa Geral de Depósitos, com sede em Lisboa, entidade que muito contribuiu para as obras das autarquias. Por todo o espaço destinado ao assentamento de manilhas e caixas de derivação, foi difícil o trabalho executado com a força dos braços dos seus executantes, depois de extraírem toda a pedra encontrada todo longo do percurso no subsolo. As despesas foram avultadas, o que obrigou a um trabalho demorado e por zonas, a incluir nos orçamentos municipais para os anos que se seguiam.

O presidente da municipalidade que se seguiu, José da Mota Coutinho Garrido, deu o grande arranque durante o seu mandato, quase exclusivamente preenchido com aquela obra de grande interesse para Peniche, onde também foram incluídas as águas pluviais, com valetas nos arruamentos e sarjetas para receberem as águas da chuva, ao mesmo tempo e no mesmo percurso do assentamento das manilhas, se procedeu à destruição dos sumidouros particulares e públicos, além dos canos parciais e sifões. Também o presidente que se seguiu, António da Conceição Bento, a partir do seu mandato, a 4 de Agosto de 1946, deu continuação às obras de saneamento com grande desenvolvimento, atendendo a grande evolução da construção de bairros sociais e particulares, com o rasgar de novos arruamentos e ao mesmo tempo substituição das antigas manilhas de grés por outras em cimento de maiores dimensões, justificando a grande evolução populacional que Peniche estava a sentir.


Até então continuava-se a fazer todos os despejos para o mar em todas as direcções. Todo o núcleo habitacional da baixa de Peniche tinha o seu percurso direito ao fosso da fortaleza, vulgarmente conhecido por Doca, com diversas saídas na muralha. Junto a prainha de S. Pedro, na esquina do Baluarte, na entrada principal para a Fortaleza, funcionou por longos anos uma pia larga de despejo para os particulares que não tinham esgotos nas suas próprias habitações, resolvendo assim a muitas mulheres o problema com um pote – também vulgarmente conhecido por azado – em que ao fim do dia despejavam os dejectos. A parte alta da vila também tinha o seu problema resolvido com o esgotar para o carreiro fedorento, na costa sul.



Foi já no dealbar do século que novos rumos foram criados a favor do saneamento na cidade de Peniche, que passo a descrever um pequeno resumo:” A nova Estação de Tratamento de Águas Residuais ( ETAR) de Peniche, foi oficialmente inaugurada a 29 de Agosto de 2001 numa cerimonia presidida pelo ministro do ambiente, José Sócrates, na presença de Jorge Resende Gonçalves, então a frente dos destinos do Município e outras entidades civis e militares”. Esta estação tem a capacidade de tratamento para mais de 46 mil habitantes e inclui uma unidade de tratamento de gorduras provenientes de gorduras das industrias conserveiras locais, considerada a maior da Europa, uma obra com um custo global de cerca de um milhão de contos, 75% dos quais comparticipados por fundos comunitários e os restantes 25% pela autarquia.





Texto & Fotos: Fernando Engenheiro





terça-feira, agosto 13, 2013

sexta-feira, junho 07, 2013

Migração Nazarena que Peniche recebeu durante o século XX

               Começo par fazer referência à actual Vila da Nazaré num pequeno resumo sobre a fundação daquela povoação e seus antecedentes. Por elementos antigos por mim recolhidos, consta que os habitantes da actual “Nazaré” têm a sua origem no lugar de Paredes, na continuação da praia do Norte, a 6 quilómetros a norte da freguesia de Maiorca. Foi fundado este lugar por El-rei Dom Diniz, que lhe deu foral em Coimbra, a 17 de Dezembro de 1282 - L0. de Doações fls. 61V, col 1 -, e outro dado pelo mesmo rei, também em Coimbra, a 29 de Setembro de 1286 - Lo. de Doações do mesmo Monarca, fls. 176V, col. 1). Progrediu muito a Vila de Paredes, até 1500, mas as areias do mar foram-na invadindo e arrasando, tendo em conta também o grande maremoto que se seguiu ao terramoto que assolou uma grande parte do pais a 26 de Novembro de 1531, em que também esta zona não ficou poupada, como consta dos prejuízos causados no próprio Mosteiro de Alcobaça, que lhe fica perto, pelo que se despovoou, indo os seus moradores fundar ou reedificar a Vila da Pederneira, ficando assim, por única memória, a capela de Nossa Senhora da Vitória, que chegou até aos nossos dias a grande veneração, destes povos, a casa do ermitão e uni moinho de vento.

    Por mais de 200 anos, foi a Vila de Paredes uma povoação de bastante importância em especial marítima. Ao que nos é dado a conhecer, a própria Casa de Deus a que fazemos referência
então povoação, foi mandada edificar pelo rei Lavrador, para matriz da freguesia, onde como já afirmei, tem sido este orago objecto de muita devoção dos povos das redondezas, que lhes dedicam dias especiais para as suas manifestações de fé, bastante concorridas de romagens. Seus habitantes, ao deixarem ao abandono a Vila de Paredes, vieram se estabelecer no lugar da Pederneira, num morro que tinha a seus pés o oceano, trazendo todos os seus haveres, os seus forais e privilégios, Não tardou que os moradores do então lugar de Ílhavo, nas imediações de Aveiro, em grande parte os seus habitantes da classe piscatoria, apôs o fecho da Barra, daquele lugar, cm 1756, ficaram isolados do mar (hoje situado a cerca de sete quilómetros do oceano), obrigando aquela povoação a procurar outros locais, entre os quais “Nazaré ocupando espaço à beira-mar, cujas construções não passavam de umas cabanas para também recolherem os apetrechos de pesca. Começa a Praia da Nazaré, junto às arribas do sítio, a povoar-se no segundo quartel do século XIX, já então tinham sido abolidas as Ordens Religiosas que datam de 1834, sendo proprietária destes domínios a Ordem de S. Bernardo, com sede no Mosteiro de Alcobaça, passando a partir de então, sob a Administração do Poder Autárquico da Pederneira, que se prolongou até 1855, sendo anexado a Alcobaça e restaurado em 1898.
    O pescador desde muito cedo que se habituou a lidar com a faina do mar e a conhecer praticamente pela influência dos ventos e pelo aparecimento de certos sinais atmosféricos, os caprichos e as rabugens do mar: Sendo aquele vasto espaço salgado, tal como as terras para a população rural, tem os seus nomes e designações especiais, conhecendo o pescador a sua constituição, profundidade e por experiências, também, o modo de pesca que se deve empregar. O problema, de facto, surgia com a rebentação que se verificava na praia, consequência da ondulação, das más condições de tempo, da oscilação dos ventos, enfim! Em muitos dias não se podia ir pescar porque não se podia atravessar a zona de rebentação das ondas quando, a 50 metros da praia, o mar oferecia as melhores condições de trabalho.

   Os pescadores estavam meses sem ganhar o sustento para si e seus familiares, o que os obrigava a arriscar as suas vidas indo para o mar quando praticamente não existiam condições para tal. Dou, como exemplo, o resultado da ultima estatística de acidentes que decorreram nos anos de 1889 a 1977, em que 155 pescadores morreram na Nazaré. Não podiam mais com tanto sofrimento as mulheres, viúvas e mães, sem os seus filhos, que o mar cm grande parte não devolveu seus corpos à terra que os viu partir. O negro do seu vestuário pairava por todas as esquinas.
Considerados aqueles trabalhadores marítimos dos mais laboriosos e arrojados de todo o litoral português, em consequência da falta de segurança na pesca e até as mínimas condições, foi crescendo o desejo do abandono da actividade piscatória ao longo dos tempos. Apesar de cansados das suas precárias condições no sustento para si e seus familiares, o seu pensamento estava na pesca e os filhos nasciam-lhes já amarrados aos cabos do aparelho de pesca, tradições que se foram transmitindo de gerações para gerações. O mar continuava a matar, não havia mais por onde lutai; os dramas eram constantes tanto no mar como em terra.
   Foi logo nos primeiros anos do século XX que o grande temporal com que se despediu o mês de Setembro de 1907, se traduziu numa terrível inundação ocorrida na Nazaré, que deixou numerosas famílias sem-abrigo e determinou imensos prejuízos, invadido pelas areias que a égua arrastou a enorme distância dos areais, chegando a sua acumulação a atingir em alguns sítios a altura de mais de dois metros. As ruas principais da parte central da vila ficaram completamente obstruídas e bastantes casas subterradas até aos primeiros andares. Havia agora uma boia de salvação, mais confortável, para os mais prejudicados que pretendiam outras condições para a sua luta diária. Era Peniche a sua possível tarefa a realizar, com administração própria, enquanto a Nazaré, por ser extinto o seu concelho em 1855, passou a pertencer a Alcobaça. Anos mais tarde, foi restaurado cm 1898, mas em 1912 passou a designar-se por concelho da Nazaré, agora com todas as atribuições administrativas de concelho. Também a representação marítima era uma pequena delegação que se fazia representar no Poder Central.
  No início do século XX deu a primeira migração com rumo a Peniche. Foram famílias completas, uns a pé pela praia fora, de a fazer-se transportar com o seu foquim, com alguns alimentos para a viagem, no outro braço o gabão (oriundo dos habitantes de Ílhavo) em tecido burel, também designado por “baeta’ a mulher com a canastra de verga à cabeça, transportando alguma haveres, e os filhos transportando algumas peças roupas em pequenos sacos formados por retalhos de tecidos dos mais diversos tamanhos qualidades. Outros ainda conseguiam, mediai pagamento, serem transportados em galeras de transporte, de tracção animal puxadas carga a fazerem por duas etapas, pernoitando no lugar da Da Gorda para descanso do gado.
     As mulheres da Nazaré, com as suas características próprias que nós bem conhecemos, acostumadas a ajudar os homens, em especial na “arte xávega que consistia num velho processo de pescar muito usado naquela praia, em que o aparelho é armado a 1.000 ou a 1.500 metros da borda de água, com as duas extremidades separadas uns 300 metros no sentido paralelo à praia. Ao centro fica o “saco’ colocado de forma a constituir urna ratoeira certa para o peixe que entra na zona de influência da rede. Era um grande e rude trabalho para as mulheres, mas que colaboravam com empenho, ao lado dos seus familiares, a puxar as artes para terra, embora sempre com angústias da ida dos maridos, dos pais e dos filhos para o lançamento da rede naquelas centenas de metros, mas nunca lhes passariam pela cabeça instar para que faltassem ou desistissem. Foi assim que a mulher da Nazaré chegou a Peniche, lutadora, rude, sem qualquer preconceito da sua dignidade feminina. Foi um grande choque para a mulher de Peniche, atendendo aos seus pacatos usos e costumes, resguardada em sua casa, passando major parte do seu tempo à frente de uma almofada cilíndrica a construir a renda de bilros, maneira mais cómoda de ajudar o seu marido nas despesas familiares e para si a mais decente. Pela sua maneira de se apresentar, ao lado dos homens, sem qualquer acanhamento na sua labuta e azáfama na preparação de peixe e o seu fraco vocabulário, contrário à decência e ao pudor a mulher da Nazaré não foi bem recebida pela mulher de Peniche. Dou como exemplo dessa diferença, ainda hoje, decorrido um século, quando alguém faz uma pergunta para ir a um determinado sítio, quando não há mais referências para a sua identificação, há sempre uma penicheira a informar que naquele local até lá mora uma nazarena e já vamos na quarta geração de oriundos da Nazaré naturais de Peniche.

   Desprovida de qualquer intolerância, com a sua bem conhecida espontaneidade, no seu trabalho de braçal ao lado do homem, para seu melhor desenvolvimento, atendendo na época ao uso do seu vestuário da saia comprida a esconder os tornozelos (uma das partes do corpo da mulher de maior respeito e da mais dignidade a não ser vista) resolvia o problema com uma corda um pouco abaixo da cintura, fazendo subir até formar fole, o que ofendia na época a moral pública, pois estes são pequenos pormenores mas que a sociedade da época não aceitava. Depois de sucessivos avisos, as mulheres resolveram o problema ao usarem uns canos de meias nas pernas que, ao mesmo tempo, resolviam o problema da barra da saia sempre ensopada em salgadiço, tornando-se uma defesa para não ferir a barriga das pernas. As mulheres da Nazaré estavam sempre prontas para as desordens umas com as outras e às confusões em plena via pública, em especial junte aos marcos fontenários nos dias de bichas por a água ser escassa para o consume doméstico.
   Depois da primeira migração nos primeiros anos do século XX, outros naturais da Nazaré vieram a miúde, até que a crise da pesca se acentuou naquela vila a partir de 1930. Até essa altura, a Nazaré estava entre os grandes centros de pesca em Portugal. A crise surgiu quando a pesca da sardinha naquela costa começou a ser explorada per traineiras espanholas e portuguesas, pertencentes aos portos de Peniche, Figueira da Foz e de Leixões, que, aproveitando as características da pesca artesanal existente na Nazaré, puseram termo a todas as artes da sardinha que aí existiam. No entanto, como os pescadores confiaram na construção do porto de abrigo a fazer pelo Governo de Salazar, adquiriram, por volta de 1930, 42 traineiras movidas por propulsores mecânicos, chegando os seus proprietários, quase todos pescadores, a hipotecar todos os seus haveres. Uma vez que a promessa não foi cumprida, os seus proprietários foram obrigados a desfazerem-se delas para pagar as suas dívidas e obrigados, em grande parte, a fazerem rumo a Peniche. Assim, em 1958, ainda existiam 16 traineiras na Nazaré. Em 1959, seis, e em 1975 já não existia nenhuma, muitas também foram as embarcações que saíram com destino ao desenvolvimento da pesca em Peniche.

  Peniche e Nazaré foram dois povos que, durante o século XX, trabalharam na sua labuta de mãos dadas, recompensaram esta terra com as suas experiências e o seu saber na arte de pescar, que muito lhes devemos. Temos uma divida para com esta colónia, de nunca lhes ter dado o reconhecimento e o agradecimento em publico, pois grande parte do desenvolvimento desta península, desde o princípio do século XX, a ela se deve.

Apontamentos diversos

  Foi a 3 de Setembro de 1983 que ocorreu a abertura simbólica do Porto de Abrigo da Nazaré, na presença do Primeiro ministro da época, Dr. Mário Soares, acompanhado pelo Ministro do Mar, Carlos Melancia. A construção do Porto de Abrigo, na enseada da Nazaré, constituiu uma velha aspiração local. Os estudos para tal realização foram retomados em 1971, estudo este concessionado em 1977, após anuncio público em Maio do mesmo ano, feito pelo Primeiro-ministro, Mário Soares, que garantia assim o arranque das obras da construção do referido Porto de Abrigo. Concluída a obra, na década de 80, foram poucas as famílias que voltaram às origens, deixando a comunidade piscat6ria de Peniche.

Texto: Fernando Engenheiro