sexta-feira, novembro 29, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche IV

Texto: Fernando Engenheiro
No mesmo dia da inauguração da Casa Escola foi promovida pela direcção daquela associação uma homenagem ao senhor Aires Henriques Bolas, ex-presidente da direcção e um dos lídimos pilares robustecedores da vitalidade da prestigiosa e humanitária colectividade. O acto teve lugar no salão de recreio da referida associação, ao qual assistiram as individualidades de maior destaque da então vila de Peniche, nomeadamente o presidente da câmara, Vítor João Albino de Almeida Baltazar; o presidente da assembleia-geral, António da Conceição Bento; o presidente da direcção, Renato Pereira Fortes; o comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho; o vice-presidente da autarquia, José      Acúrcio Vidal de Carvalho; e, além de outras individualidades, os representantes da imprensa. Usou da palavra Renato Fortes, que explanou a significação do acto e agradeceu a presença de todas as entidades, inclusive a dos representantes da imprensa, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho fez a apologia da acção relevante de Aires Bolas, patenteada pelas seus 32 anos de ininterrupta e diligente actividade na respectiva associação e, finalmente, usou da palavra o homenageado que, comovidamente, agradeceu a sensibilizante festa que lhe tributaram. Seguidamente Aires Bolas recebeu das mãos do presidente da câmara uma salva de prata e das mãos do comandante da corporação um pergaminho contendo os nomes de todos os bombeiros que faziam parte do corpo da filantrópica associação. Seguiu-se um Porto de Honra.
Ainda na década de 60, o Instituto de Socorros a Náufragos fez uma consulta à Corporação dos Bombeiros para saber se estava interessada e capacitada para colaborar na área do salvamento marítimo. Como já era do conhecimento geral, sempre que havia problemas de náufragos, os Bombeiros Voluntários estavam de mãos dadas com a aquela entidade. Não faltaram boas informações. Desde Março de 1933 o Capitão do Porto de Pen pôs à disposição dos Bombeiros o carro porta cabos daquela organização marítima, equipamento desaparecido há já longos e de que foi dada baixa ao efectivo. Por tudo isto, a 17 de Maio de 1966, na Praça Jacob Rodrigues Pereira, foi entregue à corporação, pelo então comandante do Porto de Peniche, acumulando as funções de administrador do Instituto de Socorros a Náufragos com sede em Peniche, capitão tenente Munoz, na qualidade das suas funções naquele instituto, depois de benzida pelo Pe. António da Silva Almeida, natural de Salreu, capelão da Colónia Infantil de Nossa Senhora dos Remédios em Peniche, a viatura Land Rover ‘Porta Cabos material da maior utilidade para o salvamento de sinistrados no mar, permitindo o aumento das possibilidades de socorrer a quantos a tragédia batesse à porta.
Na mesma década, mais propriamente a 19 de Junho de 1962, por deliberação camarária naquela data, foi atribuído aos ‘soldados da paz’ que formam a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, pelas acções desenvolvidas a bem de Peniche e concelho, a medalha de ouro de recompensa da vila de Peniche, Também pela governador civil do distrito de Leiria foi dada conheciment à Associação dos Bombeiros Voluntários desta vila, de um louvor do ministro do Interior, às entidades que mais contribuíram para a prontidão e eficácia dos socorros prestados às vitimas do lamentável acidente ocorrido no dia 15 de Fevereiro de 1963, com o elevador que liga a vila da Nazaré ao Sítio. Nas referidas entidades, distinguiu o representante do Governo no nosso distrito, a Corporação dos Bombeiros Voluntários de Peniche pela sua activa participação nos referidos socorros.
Em 1964, nas comemorações do 350 aniversário da fundação daquele organismo de solidariedade humana, foi celebrada missa campal no Largo Bispo de Mariana por alma dos bombeiros falecidos e seus familiares, bem como uma romagem ao cemitério com colocação de flores aos membros falecidos que constituíra a instituição. Seguiu-se um simulacro de incêndios, com demonstrações de materiais de combate a incêndios.
Em 1967 foi oferecido um auto com capacidade para 6.000 litros de água e que se deve, sobretudo, a um gesto altruísta da firma Manuel Mamede, L.da, e ao espírito de colaboração da Câmara Municipal no que diz respeito às necessárias obras de modificação daquela viatura, e ao Conselho Nacional dos Serviços de Incêndios que contribuiu com o subsídio de 20.000$00.
Impunha agora a construção de um novo quartel, pais já não era possível, com um corpo de bombeiros em plena forma e um grupo de 6 viaturas, sendo 4 para combate de incêndios, 1 para socorros a náufragos, com respectivo atrelado, uma outra para serviços de ambulância, 2 moto bombas para serviços de incêndios e outras tantas para serviço de esgotamento, manter-se a corporação num pobre e modestíssimo quartel, em edifício de renda, incapaz para acomodar todo o pessoal e material. Assim, em 1969, para obtenção do necessário terreno junto da Casa-Escola da Travessa do Matinho, foi adquirido um armazém a Emídio Barradas, por 350.000$00: (escritura de 16 de Dezembro de 1969, lavrada 110 Livro de Notas n°. 20 do Notário Privativo da Câmara Municipal de Peniche). Meses antes, em Junho do mesmo ano, num terreno municipal contíguo, havia já sido lançada a primeira pedra do novo quartel, na presença do inspector de incêndios da Zona Sul, coronel Rogério de Campos Cansado, acompanhado pelo então presidente à frente dos destinos do Município, Vítor João Albino da Almeida Baltazar. Aproveitando a cerimónia, foram benzidas pelo pároco das freguesias de Peniche, Pe. Manuel Bastos Rodrigues de Sousa, as viaturas que tinham sido recentemente adquiridas: uma Citroen ID, a que foi dado o nome de ‘Vila de Peniche’,tendo sido madrinha que nos honrou com a sua presença, a esposa do presidente da Câmara Municipal, Helena Baltazar, e um carro de nevoeiro GMC, todo-o-terreno, baptizado com o nome do comandante da corporação, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, tendo sido madrinha a sua esposa, que também nos honrou com a sua presença, Ruth Freire Vidal de Carvalho. No mesmo dia em acto solene, já em recinto fechado, foram distinguidos, durante as cerimónias, com a medalha de cobre que corresponde a mais de 5 e menos de 15 anos de actividade, o bombeiro de 2° classe n° 8 - Luís Moreira das Neves, bem como o bombeiro de 3° classe n°11 Jacinto dos Prazeres Santos. Com a medalha de prata, que corresponde a mais de 15 e menos de 25 anos de actividade subchefe Albertino Jesus da Silva, bombeiro de la Classe n°1 - Joaquim Miguel Eustáquio Souzinha; bombeiro de l° Classe n° 2 — Patrício dos Ramos; bombeiro de 2° Classe n°5 — Sebastião Maria das Neves, bombeiro de 2° Classe n° 6 - José Alexandre e bombeiro de 2 Classe n° 7 - Fernando Luís Malheiros Lopes. Com a medalha de ouro, que corresponde a 25 ou mais anos de actividade, foi distinguido o chefe do material — António da Graça e o Bombeiro de 2° Classe n° 4— Joaquim Rogério Adão.
Na mesma década, mais propriamente em 1969, dado o êxito, a duração da improvisada fanfarra, resolveu a direcção dos Bombeiros constituir cm definitivo uma fanfarra com o número mínimo de 14 elementos e para isso adquiriu os respectivos instrumentos: um bombo, duas caixas, dois tambores, oito clarins e dois baixos, lembrando que o seu começo foi constituído por José Matias, Joaquim Alves Bartolomeu e Renato Neves, figuras que destacamos em primeiro plano. A 3 de Julho de 1969 está em bom andamento a concretização do novo quartel na Travessa do Matinho, sendo apresentado por aquela associação humanitária um ante-protejo da obra, da autoria do ex-Pe. Alcides dos Santos Martins, filho que foi desta terra, e que se dignou ofertar todo o trabalho de gabinete técnico. Em Maio de 1969, durante a presidência de Américo de Deus Rodrigues Tomás, numa das deslocações a Peniche em visita oficial, a direcção e comando dos BVP recebendo o Chefe de Estado nos Paços do Concelho, quiseram dar conhecimento ao supremo da nação que, doravante, passaria a ser sócio daquela instituição humanitária, conforme relata um pergaminho que lhe foi entregue na altura e que recebeu com muita honra e agrado aquela distinção de uma instituição que faz parte do nosso país e que tanto tem contribuído para o bem-estar dos seus habitantes.
Decorria o ano de 1970, por altura do 41° aniversário encontrava-se de luto esta instituição, por ter falecido recentemente de morte si o seu ajudante do comando e um bombeiro em defesa da Pátria no Ultramar, foram por estes motivos encerradas quaisquer manifestações usuais no decorrer daquele ano. Tratou-se de João Francisco da Graça, nascido a 5 de Janeiro de 1913 e falecido aos 57 anos a 4 de Março de 1970. Deu entrada no Corpo de Bombeiros de Peniche a 19 de Junho de 1932, como aspirante; foi promovido em 1933 a bombeiro de 3a e em 1935 a 2° Classe. Em Dezembro de 1944 voltou a ser promovido, desta vez a bombeiro de 1° Classe. Dada a sua enorme dedicação e abnegação, em 9 de Junho de 1959 é elevado a subchefe da corporação. A sua ascensão não termina aqui, pois a 30 de Junho de 1960 é nomeado chefe de material e, por último, em 1968, por proposta do Comando e homologado pelo inspector dos Serviços de Incêndios, ascendeu a ajudante do Comando, O extinto era possuidor das medalhas de cobre (por relevantes serviços prestados à Associação dos Bombeiros); prata (por bom comportamento); e ouro (por 25 anos de serviço). Joaquim Francisco Rodrigues da Silva, natural de Peniche, onde nasceu a 20 de Agosto de 1947, faleceu em combate na Província de Moçambique a 30 de Outubro de 1970, alistou-se nesta corporação em Junho de 1966, tendo alcançado a promoção a bombeiro de 3° classe com a classificação de 18 valores, em Fevereiro de 1967. Antes de se fazer a deposição dos restos mortais do heróico soldado no fundo da campa, o presidente da Câmara, Francisco de Jesus Salvador, a pedido dos elementos directivos dos BVP fez oferta à mãe daquele defunto, duma medalha de prata, símbolo de gratidão e de homenagem da parte de quantos servem a mesma corporação. Lembro aqui também incluído no mesmo luto que afectou a corporação, António Delgado Miranda, vulgo António Correeiro, falecido com 62 anos de idade a 20 de Março de 1970, que foi membro por longos anos ao serviço da Corporação dos Bombeiros. Aquela instituição prestou-lhe a devida homenagem de manifestação e pesar acompanhando-o à sua última morada.
Com referência ao novo quartel para os Bombeiros Voluntários de Peniche, em 27 de Setembro de 1970, a edilidade aprova, por unanimidade, a alienação gratuita de terreno de 948 metros quadrados à Associação dos Bombeiros, para ali ser implantado o seu quartel/sede. Em aditamento àquela cedência, a Direcção-Geral de Administração Política e Civil do Ministério do Interior, impõe algumas clausulas, de salientar a alínea b): “Se não for cumprido o prazo estipulado ou se o terreno cedido for dado destino diferente daquele que justifique a cedência gratuita, reverterá o mesmo para o Município, incluindo as benfeitorias nele efectuadas, sem direito a qualquer indemnização Também o Governo Civil do Distrito de Leiria se pronunciou sobre o assunto, concordando com as deliberações camarárias de 2 de Setembro de 1970, bem como as cláusulas propostas pela Direcção Geral de A.P.C. do Ministério do Interior. Todo este processo culminou com o despacho ministerial de aprovação em 12 de Julho de 1971.
Foi grande a luta para se conseguir alcançar o objectivo desejado. Toda a corporação se empenhou na construção do novo quartel, tendo a trabalhar ao lado do seu comandante Luís Filipe, o então presidente da direcção Jacinto Teodósio Ribeiro Pedrosa, também grande impulsionador desta importante obra para a época. Em fins de Outubro de 1972, está concluída a primeira fase das obras do novo quartel dos bombeiros, começando nesta data a ser utilizado o respectivo parque de viaturas. Surgem as primeiras bandeiras que representam aquela instituição a flutuar ao vento na fachada inacabada. Resolveu a direcção, com o acordo unânime do corpo activo, data este parque de viaturas o nome do seu comandante, mostrando assim o quanto reconhecem o seu esforço a uma causa de tanto interesse para o bem comum da nossa terra, ao mesmo tempo perpetuando o seu nome naquele espaço.
Procedeu-se à transferência das viaturas para a nova unidade e foi com uma ponta de saudade e comoção que se assistiu à passagem na zona principal de Peniche no seu trajecto da primeira viatura (carro braçal), que se destinava a pronto socorro dos Bombeiros Voluntários de Peniche, A viatura em causa foi conduzida pelos bombeiros daqueles primeiros tempos: Manuel António Malheiros, António Belarmino Rodrigues, vulgo António Serafim José do Rio e Luís da Costa, vulgo “Luís Caseiro”.



terça-feira, novembro 19, 2013

Soldados da Paz com Sede em Peniche III

Por: Fernando Engenheiro
Pela primeira vez o benemérito e brioso corpo activo da Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche quis agradecer ao segundo- comandante dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e comandante da Corporação de Peniche, Paulino Pereira, atribuindo a medalha de ouro como reconhecimento de todo o esforço desempenhado na conduta de instrutor desta corporação, sem qualquer remuneração nas suas presenças e deslocações a esta então vila, durante dois anos, deixando todos os soldados da paz aptos no desempenho das suas atribuições. Assim, foi deliberado em acta da sessão ordinária de 5 de Novembro de 1933 o seguinte: propunha que, a exemplo do que fizeram outras associações que dele receberam igual favor da sua valiosa instrução, se mandasse cunhar uma medalha de ouro com o escudo desta associação, tende no reverso a legenda “Honra do valor” da qual se lhe faria entrega naquele dia, acompanhada do respectivo diploma. A direcção aprovou por unanimidade o alvitre, que partiu também do nosso segundo comandante, vogal António Adelino Gomes da Silva, que se encarregou de mandar cunhar a referida medalha e desenhar o aludido diploma.
A luta por fazerem mais e melhor era constante e a acção dos bombeiros não se ficava só pelos incêndios, As grandes tarefas de socorro que se apresentavam no dia-a-dia, cada uma com o seu
problema especifico, fez sentir àqueles soldados da paz a necessidade de melhor se apetrecharem, confrontados muitas vezes com situações de perigo no combate a incêndios, ficando eles próprios sujeitos a traumatismos, queimaduras, asfixia e, em alguns casos, afogamentos. Assim, cedo se aperceberam das suas carências no campo da saúde. Mas não são só os incêndios que clamavam a sua presença. O naufrágio conta com eles para salvar a vida; o ferido confia na sua assistência; o doente vê nele alivio para os seus males; o invalido considera-o o seu complemento.
Têm sido muitos os naufrágios ao longe dos tempos ocorridos na nossa costa, auxiliados por este grupo de voluntariado. Lembro aqui o navio inglês “Ingland Hope’ da empresa Nelson Laine, ocorrido no Farilhão a 19 de Novembro de 1930, embora com poucos recursos não deixaram de prestar auxilio em receberem os náufragos e
dando-lhes a devida assistência; o navio espanhol “Fernando Ibarra” naufragado em Vale de Janelas a 20 de Dezembro de 1943, que fez a oferta a esta colectividade humanitária de 1.500$00 pelos serviços prestados; o vapor francês “Henry Mory” abicado na Papôa a 6 de Outubro de 1931, deram o seu contributo possível no auxilio aos tripulantes; “João Diogo’ navio português encalhado na Papôa a 8 de Janeiro de 1963, também lhes prestaram todo o auxílio ao seu alcance; e tantos outros que o tempo apagou mas que na memória dos membros que contribuíram nestas façanhas nunca estão esquecidos, recheados das mais diversas histórias.
Mas não é só nos reveses da vida que a sua acção se faz sentir. A sua participação em manifestações de carácter cultural e social é também digna de menção e reconhecimento de todos nós. Em 1940, quando o transporte de feridos e doentes era encarado como uma prioridade por aquela associação humanitária, a Junta de Provincial da Estremadura cedeu-lhe, a título gratuito, um automóvel, com o fim de ser adaptado a auto-maca.
No que respeita à representação dos Bombeiros, logo apôs a aprovação dos estatutos, havia que pensar num “emblema” que distinguisse aquela corporação. Com as sugestões de Afonso Dornelas, da Associação dos Arqueólogos Portugueses, expressas, com o exemplar propriedade no brasão adaptado pela Liga dos Bombeiros Portugueses, foi criado para esta corporação o seguinte distintivo: “Brasão da então Vila de Peniche, sobreposto a um troféu, constituído por dois machados cruzados em aspa, e o conjunto suportado por uma fénix, de usas soltadas. Sotoposto ao escudo, um listel com uma legenda: ‘VIDA POR VIDA’ Bandeira com o fundo esquartejado: o primeiro e o quarto a vermelho; o segundo e o terceiro a preto.”
Também para vincular a sua representação cm cerimónias diversas, havia que mandar fazer um estandarte, Assim, foi convidada Isabel Ribeiro Artur a constituir urna comissão de senhoras para colaborarem na obtenção de fundos para aquele efeito. Foi na devida altura encarregada da elaboração do trabalho Beatriz de Sousa Tavares, natural de Peniche e residente cm Lisboa, pessoa cujos méritos em trabalhos daquela natureza eram sobejamente reconhecidos no nosso meio, autora que já era do estandarte municipal. Em Novembro de 1940 é recebido com grande júbilo a notícia de que a autarquia, da presidência de Luís Pedroso da Silva Campos, resolvera mandar instalar um telefone fixo, naquela associação, sem encargos para a colectividade.
Continuava-se por todos os meios e acções a adquirir verbas para satisfazer as despesas correntes em especial com fornecedores. A direcção, em sessão ordinária de 6 de Janeiro de 1941, propôs para se entrar em negociações de arrendamento do armazém com o seu proprietário José Gago da Silva, que possuía na Travessa de Nossa Senhora da Conceição, onde foi a sua fábrica de conservas.
Pretendia esta entidade explorar aquele espaço com bailes no Carnaval, cuja época festiva se aproximava, em virtude de já se ter aceitado a proposta do Grupo de Jazz “Os Luziados” de Peniche, por tempo indeterminado. Foram longos os anos que esta colectividade ali teve os seus divertimentos com recinto para bailes com bar. Chegou aos nossos dias aquele espaço de divertimentos público com a designação de “os bailes do Esfrega’.
Em 1943, coma devida autorização do proprietário do imóvel, António Andrade, onde funcionava a Sede dos Bombeiros, foi possível alterar a fachada, rasgando o portão da entrada principal, para poderem entrar os meios de transporte, de modo a ficarem mais bem acondicionados e ao mesmo tempo resguardados das intempéries. Também em Maio de 1944 os consórcios Joaquim Guilherme Fana Júnior e Luís Gonzaga Ferreira Correia Peixoto, ambos industriais de pescarias, ofereceram para ser montada no telhado da sede uma sirene, Ficou assim dispensado o auxílio do sino grande das torres das Igrejas de São Pedro, Nossa Senhora da Ajuda e Nossa Senhora da Conceição, de que permanentemente pendiam cordas para o exterior, com a finalidade de serem usados para alarmes quando ocorriam situações carentes da intervenção dos bombeiros.
Recordo aqui e presto a minha devida homenagem a Salvador das Neves, por exercer as funções de contínuo da sede, a partir de Setembro de 1948, que se prolongou por mais de três décadas, em substituição de Gabriel Pinto Vitorino, que foi um servidor exemplar, que la além das funções para que foi destinado, sempre pronto a servir e estimado por todos os elementos que constituíam aquela Casa Humanitária. A 11 de Dezembro de 1949, chegou a Peniche a nova automaca para ser entregue a esta associação, por deliberação da mesma entidade de 6 de Novembro do mesmo ano, tendo sido convidadas as entidades oficiais, o pároco os sócios e a população em geral.
Foi a partir do dealbar da viragem do segundo quartel do século XX que a direcção constituída por Alberto Monteiro de Proença (presidente), Aníbal dos Santos (secretário), Aires Henriques Bolas (tesoureiro) e António da Conceição Bento (vogal) quiseram honrar alguns dos seus soldados da paz no dia do 21° aniversário daquela corporação acompanhado de um beberete, conceder medalhas de prata, de bom comportamento, aos seguintes bombeiros: Manual António Malheiros, com 21 anos de serviço; António Belarmino Machado, vulgo António Serafim, com 16 anos de serviço; Inácio Luís Seia, com 21 anos de serviço; Luís da Costa, vulgo Luís .Caseiro, com 18 anos de serviço; José Rosado Rio, com 21 anos de serviço.
Depois de 30 anos de plena actividade, em que estiveram no Comando dos Bombeiros Paulino Pereira, segundo-comandante da Corporação dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras e comandante-honorário da Corporação de Peniche, António Adelino Gomes da Silva, Domingos Junqueira Fernandes Félix Pilar, António Alves, Joaquim de Paiva, Alberto Monteiro de Proença e Manuel António Malheiros, entrou ao serviço da corporação como seu comandante, em Novembro de 1958, Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, funcionário corporativo, natural de Peniche, homem dinâmico, com os seus 30 anos de idade, cheio de boa vontade de servir e de acertar.
A corporação sentiu desde logo o seu entusiasmo e a humanitária colectividade viveu um salutar remoçamento, promessa dum regresso aos tempos em que os voluntários de Peniche lograram um crédito que os guindou a invejável altura, renovação que saltava aos olhos dos que de perto acompanhavam a vida da instrução. O interesse de então não somente se manteve mas foi avolumado, mercê de um querer forte, secundado par toda a corporação. A 23 de Julho de 1961, na presença do ministro das Obras Públicas, Arantes de Oliveira, bem como de um representante do ministro do Interior (actual Ministério da Administração Interna) e delegações de dez corporações deste distrito, fossem benzidas, em frente da sumptuosa Igreja de São Pedro, desta então vila de Peniche, três novas viaturas: um auto-tanque pronto-socorro, uma ambulância e um “jeep’ Tiveram como madrinhas dos respectivos veículos, respectivamente, Mariete Monteiro Dias Bento (esposa de António da Conceição Bento), Dulce Freire Vidal de Carvalho filha de Luís Filipe Jordão Vidal de Carvalho, e Maria da Glória Salvador Henriques, esposa de Aires Henriques Bolas. Também no mesmo dia foi inaugurada a Casa Escola no logradouro do futuro quartel, nas imediações da Rua do Martinho Foi dada aquela construção como pequeno reconhecimento o nome de António da Conceição Bento, em actividade na presidência da Câmara Municipal na época.

sexta-feira, novembro 08, 2013

A loja do Laurindo





Situada na rua Garrett, em Peniche, esta loja foi até o dono abandonar este mundo, o que hoje chamamos comércio de proximidade, para a minha geração era um ponto de encontro, o local que estava aberto fora de horas, quando nos faltava uma caixa de fósforos, ou que se acabou o gás.


Nos anos 60 do século passado, era também no Laurindo que as nossas mães se iam aviar, comprar o petróleo para os candeeiros, ainda me lembro do cheiro a café, que era moído na maquina, e embalado num cartucho de papel, é uma parte da nossa vida que desaparece, que nenhum hipermercado pode substituir



Paz a sua alma.  

sexta-feira, novembro 01, 2013

SOLDADOS DA PAZ COM SEDE EM PENICHE PARTE II

Texto: Fernando Engenheiro
   No início de 1930 começou a ser construída a Casa-Escola, conhecida por “Esqueleto’ uma obra
a cargo do construtor civil mestre Serafim António Rodrigues, que foi residente em Peniche, e que se destinava aos exercícios daquela corporação. Para isso, mais uma vez tiveram o auxilio da autarquia, autorizando a exploração de toda a pedia que necessitassem, no sitio da “Gravanha’ propriedade do Município, adquirida havia pouco tempo a Da Maria da Glória Sobral Cervantes, que ficava perto do local de implantação daquele imóvel,bem como de todo o madeiramento necessário, a obter do pinhal municipal do Vale Grande, limite de Ferrel O local escolhido era um terreno particular, pela qual a sua proprietária D Raquel Monteiro Cabral Mateus Dias, exigia o pagamento mensal de 100$00 toda a conveniência na criação daquele imóvel, cuja inauguração teve lugar no dia do segundo aniversário da fundação daquela colectividade. Com o incremento dado à criação do Corpo de Bombeiros, a formação dos soldados da paz era também um importante objectivo a prosseguir, verificando-se uma acentuada tendência para a construção das chamadas - casas-escolas, onde era, e hoje ainda é, com exercícios práticos, ministrada a instrução a nível interna.
   Em Abril do mesmo ano é feita a encomenda de um carro de tracção braçal com escadas, adquirido pela importância de 6.130$00 não incluindo o despacho em caminho de ferro da cidade do Porto até a estação de São Mamede (Oeste) na importância de 613$20. Este carro, tudo leva a crer ser o que se encontra hoje exposto no espaço que. serve de museu no novo edifício da corporação e outros que se seguiram também de tracção braçal que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira) e outro transporte para diversos materiais de incêndios.
Com a criação da Liga dos Bombeiros Portugueses, em 18 de Agosto de 1930, não tardou que, a 23 de Abril de 1932, fossem aprovados pelo governador civil deste distrito, os estatutos da Associação dos Bombeiros Voluntários de
Peniche, que comportam 46 artigos. Os novos
estatutos foram apresentados a 8 de Setembro do mesmo ano, pela comissão organizadora constituída por: José Júlio Cerdeira, José do Nascimento Ginja, António Nunes Ribeiro, António Adelino Gomes da Silva e Aires Henriques Bolas.
   Para comemorar o segundo aniversário da fundação dos Bombeiros Voluntários de Peniche e prestar homenagem póstuma ao seu fundador, António Maria de Oliveira, realizou-se no dia 21 de Julho de 1931, uma sessão solene com a assistência da Comissão Administrativa, administrador do concelho e mais entidades a quem foi dirigido convite. Foi descerrada uma fotografia daquele ilustre fundador a perpetuar naquela sede a sua presença, lembrando para sempre os seus mais nobres actos em prol do seu semelhante.
   A partir de Setembro de 1932, o Quartel do Corpo de Bombeiros fez a sua transferência para o Largo D. Pedro V. Tratava-se de um armazém pertencente a um edifício que o seu proprietário, António Andrade, industrial em Peniche, tinha alugado para sede da Cooperativa Auxiliadora Penichense, Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada, constituída por escritura em 2 de Setembro de 1919, cujos destinas eram dirigidos pela próprio proprietário do imóvel e por Miguel Olavo Franco, Mário José Gomes e José do Rosário Leitão. Com consentimento do senhorio, foi aquele espaço subalugado à Associação dos Bombeiros Voluntários de Peniche, cabendo a responsabilidade do aluguer àquela cooperativa por 90$00 mensais. A Câmara Municipal, em Outubro de 1932, tomou conhecimento que estava desocupada a casa que então serviu de Quartel do Corpo de Bombeiros, numa das dependências no piso inferior do edifício dos Paços do Concelho, pais o quartel havia sida transferido para o Largo D. Pedro V.
   Só mais tarde, em Setembro de 1946, já sendo proprietário o Dr. Jaime Silva Sardinha Mata, residente em Baleizão (genro de Antónia Andrade), foi feito o contrato de arrendamento, par 120$00 mensais, a favor daquela corporação. Com a boa vontade do inquilino foram dispensadas, a partir de 5 de Abri! de 1937, as dependências da parte de três, que dava para a Rua Tenente Valentim. Era naquele espaço que a cooperativa depositava a lenha para distribuir em épocas de crises pelas mais necessitadas.
  Mesma assim, lutava-se com as escassos espaços na desempenha das funções daquela instituição, pela aquisição de mais e mais material para o desempenho no serviço contra os incêndios Em 1935, os Bombeiros Voluntários de Peniche já possuíam três carros de braçal, que se distinguiam por “bomba braçal com depósito para água” (caldeira), “carro escada’ e “material diverso” e na mesma ano entram em negociações com a firma Guérin, Lda, de Lisboa, para a compra de uma camioneta de marca “Fargo’ com o fim de aproveitar o chassis, adaptando-o a pronto-socorro. Por deliberação camarária de 25 de Fevereiro de 1935, foram concedidos plenos poderes ao vice-presidente da Câmara, António da Conceição Bento, que também desempenhava as funções de tesoureiro daquela corporação, para representar a Câmara junto da referida firma e da Alfândega de Lisboa para a aquisição do veiculo. Ficou a despesa por 20.500$00, sendo pagos pela autarquia 15.500$00 e ficando o restante a cargo da corporação.

  No mesmo ano, também a Câmara Municipal se responsabilizou pelo pagamento de uma moto-bomba, tipo “Liliput Magyrus fornecida pela firma H. Vaultier, tom actividade em Lisboa, pela importância 22.500$00, sendo este maquinismo para lançar a água na extinção de incêndios, pela importância de 15.000$00 e o restante em utensílios para adaptar na referida máquina. Foi na época uma aquisição de grande utilidade. Ainda hoje são bombas aspirantes-prementes, accionadas sempre mecanicamente que elevam a água de poços ou de tanques portáteis, alimentados pelas bocas de incêndios dos prédios ou dos passeios das ruas, em ligação com a rede de distribuição de água. Têm estas bombas anexos compressores de ar, que o motor dos carros acciona os quais comprimem a água até à pressão suficiente para que, pelas mangueiras ligadas à bomba, possa a água jorrar à altura precisa. Houve na época a grande necessidade de adquirir todo este conjunto de material de modo a que a corporação tivesse mais salvaguardada em futuros acidentes, pois não estava esquecido o grande incêndio ocorrido a 6 de Setembro de 1932, no edifício onde funcionava a drogaria de Luís do Patrocínio David Chave substituído por um imóvel de três pisos onde ainda nos fins da década de 80 do século passado funcionou a Estação dos Correios Telégrafos e Telefones no Largo Dr. Figueiredo Fana em Peniche. Do edifício ficaram apenas as paredes. O incêndio, que pareceu ter tido origem num curto-circuito, ameaçou propagar-se aos prédios contíguos e até as chamas estavam prestes a ultrapassar o largo para as outras construções. Em face de todo este perigo, foram solicitados os socorros dos bombeiros das Caldas da Rainha e Lourinhã, que pouco puderam fazer com as suas tão desejáveis presenças. De salientar que a grande falta de água foi o pior inimigo do sinistro. No começo dos trabalhos de extinção, tornou-se necessário cortar a corrente eléctrica, que toda ela era derivações aéreas. O povo alarmado, precipitadamente supôs que toda a vila iria ser pasto das chamas. Os habitantes abandonaram as suas residências, de súbito em trajos menores, correndo a buscar paradeiro sem perigo, na praia e nas rochas. Este ?acidente motivou prejuízos avaliados em 100 contos na drogaria e no prédio destruído, e em algumas dezenas de milhares de escudos nos edifícios contíguos.
 À frente deste lutador incêndio contra o homem, estava a comandar os trabalhos o primeiro comandante-interino, desde a fundação da corporação, António Adelino Gomes da Silva, natural da cidade do Porto e residente em Peniche desde 1923, exercendo a profissão de mecânico numa das empresas de motores ligadas à pesca. Não se sabe as razões que o levou pouco mais de dois meses e meio após aquele pavoroso incêndio, a 27 de Novembro de 1932, passar a exercer naquela instituição o desempenho de segundo comandante, dando o lugar de primeiro comandante a favor do tenente Rosa Mendes, com autorização superior do comandante-geral da Guarda Fiscal.
(continua no próximo número)